Viva, como estão todos, neste final de ano lectivo, presumo muito atarefado, que rapidamente se aproxima do seu desfecho?
Um olá muito especial para as Professoras presentes nas Jornadas de PP, a saber: a Elisabete, a Olga, a Beatriz, a Ana, a Luciana e a Paula. Também um olá muito especial para Elisabete Abreu, que nos deu o prazer da sua companhia nestas Jornadas, e para a Carla Leite que, horas mais tarde, se juntou ao nosso convívio.
Por onde começar este post sobre o painel “Ser Professor do 1.º Ciclo: construção do conhecimento profissional”, realizado no âmbito das Jornadas de PP’06?
Talvez, antes de mais, dizer que não sei ainda ao certo o que escrever. Melhor dito, não sei muito bem como dizer certas coisas que me têm perpassado pela cabeça, a propósito da concretização do painel, e que persistem de uma forma recorrente desde essa altura. Não sei muito bem como dizê-las porque, até agora, apesar de um esforço de verbalização e contrastação das mesmas, contínuo por não tê-las devidamente resolvidas, pelo que neste momento não sei ainda qual vai ser o resultado do texto que agora tento dar forma. Trata-se, pois, de um duplo exercício, que tenta fazer a interpretação dos sentimentos que as Jornadas acabaram por despoletar e das situações que os desencadearam. A ver vamos se serei capaz.
Para me sentir orientado neste trabalho de análise sobre o painel e sobre as minhas reacções ao mesmo, começo por tentar estruturar uma lista de assuntos a tratar, à volta dos quais queria explanar alguns dos raciocínios que ocupam os meus pensamentos: o silêncio, os agradecimentos, a apresentação da investigação, a vossa participação, a participação dos alunos do IEC, a análise de conteúdo a partir do blog (forma e conteúdo), a conferência da Professora Maria do Céu Roldão.
1) O silêncio.
Vivo estes dias, é já lá vão alguns dias desde a realização do painel, com a nítida percepção que tenho um nó por deslindar, que acaba por ser a ponta de um novelo mais amplo e complexo. Por outro lado, tenho também, neste momento, a sensação de incapacidade para o desfazer, pelo que o risco que corro agora é sempre de torná-lo ainda mais apertado e embrenhado. Contudo, percebo que o silêncio que criei, quase como um refúgio, também não ajuda ao esclarecimento.
Além do mais este espaço não se compadece de silêncios, pois apenas contribuem para a sua ausência e consequente negação da sua existência. Percebo ainda que, de forma legítima, haja quem esteja à espera de uma reacção. Por tudo isto, não posso mais escudar-me na gestão dos silêncios. E, na lógica da exposição pública do blog, nada melhor do que o blog para agitar as águas.
2) Os Agradecimentos.
Um discurso que faz sentido neste espaço, porque é sentido, diz respeito aos agradecimentos. E não se pense que é uma linguagem fácil de palavras previamente feitas. De facto, às Professoras presentes, queria deixar o meu obrigado pelo esforço, pela consideração, pela atenção. Sei que a vossa presença acaba por traduzir uma vontade que foi capaz de diluir obstáculos e que representa uma forte consideração pelo trabalho de investigação. Acredito também que esse é o sentimento das pessoas que lamentaram, pelos argumentos apresentados, não poder estar presentes.
Por isso, não queria deixar de dizer que a vossa presença foi sentida como uma tradução de compromissos anteriores, sem querer esquecer outras pessoas que também contribuíram de forma valiosa para a investigação, e que por um ou outro motivo válido, não puderam estar presentes. Não esqueço também o facto deste evento não estar inicialmente previsto no plano de trabalhos que estabelecemos num protocolo de colaboração/investigação que fiz com cada um de vocês.
3) A apresentação da investigação.
Eu tinha já apresentado, em diferentes contextos, versões desta mesma comunicação que fiz nas Jornadas. Na Finlândia tive pela primeira vez a oportunidade de dar a conhecer a investigação tal e qual está a decorrer. Por isso, tendo em atenção o contexto e o púbico, e ainda o facto de já estar familiarizado com o conteúdo da mesma, achei que havia razões para estar confiante em relação à sua aceitação. Pensei mesmo que esta era a “comunicação”, pois podia-lhe dedicar um pouco mais de tempo, detalhando alguns pormenores que não fiz em ocasiões anteriores. Também pensei que a apresentação de alguns resultados preliminares aos professores participantes na investigação, na fase em que estamos, seria visto como uma oportunidade única de reflexão e análise acerca dos mesmos, para além do cumprimento de um dever ético e moral decorrente de princípios de transparência e de rigor da investigação.
Depois, um estudo desta natureza, relacionado com a indução e a construção do conhecimento profissional, julgo eu, reunia todos os ingredientes para chamar a atenção dos alunos do IEC. Se juntarmos a isto tudo, a possibilidade de ouvir, de viva voz, experiências profissionais de ex-alunos formados pelo IEC, e de interpelá-los e confrontá-los com as suas preocupações, parecia-me estar criado um cenário de excelência em termos formativos.
4) A vossa participação.
O princípio da ‘partilha de experiências’, com o qual se proclamava as Jornadas deste ano, parece não ter sido devidamente cumprido no painel em que participaram. Parece ser, à partida, um juízo demasiado forte e, eventualmente, injusto, mas foi essa a percepção que construí. Este foi dos aspectos que mais mágoa me deixou, para além da baixa participação dos alunos do IEC, que tratarei no ponto seguinte. Ao dizer isto não lhes estou a atribuir qualquer responsabilidade directa. Parece ter havido um conjunto de factores que resultaram numa inibição pouco comum para as pessoas em questão, até pelo conhecimento e experiência que tenho da vossa forma de ser e estar na vida.
Gostava de perceber, e deixo-vos aqui o repto, por que é que não funcionou? Quais foram, no vosso entendimento, as razões que induziram este resultado? Desde já deixo aqui as minhas deduções, ainda que levadas a um extremo da análise.
a) Roubei-vos protagonismo. A razão de ser deste painel deveria ser a ‘partilha de experiências’. A partir das mesmas seria possível perceber o que é ser professor do 1CEB e como fazem a construção do conhecimento profissional, numa transição fundamental que é a passagem da formação inicial para o período de indução.
b) Relacionada com a questão do protagonismo, entronca a preparação do painel que me parece agora não ter sido a mais feliz. Talvez fosse de exigir algo de mais explícito aos grupos de investigação, promovendo a sua apresentação formal, através de um porta-voz.
c) A minha intervenção parece também ter retirado eficácia aos possíveis contributos da Dra. Altina e da Dra. Isabel. De qualquer modo, a ideia seria desafiar a audiência e o grupo de Professores que fez parte da investigação, mas em ambos os casos, por razões diversas, pareciam, logo à partida, estarem desmobilizados.
d) A minha moderação foi pouco incisiva. Julgava eu que os ingredientes do painel eram suficientemente interessantes para termos, quase como por geração espontânea, um momento vivo e rico de ‘partilha de experiências’. O meu pensamento prévio estava mais na hipótese de como ter que cortar e controlar a participação. Em face de uma palidez geral, fiz várias tentativas para ‘despertar’ e provocar a participação da audiência e das Professoras neófitas, mas sempre com resultados muito parcos.
e) A distribuição das pessoas no auditório, nomeadamente a vossa, não foi a mais favorável. Não sei porquê, mas sempre resistiram a assumir protagonismo e a passar para o ‘palco’ das atenções, enfrentando ‘de frente’ a audiência. A própria distribuição da audiência, muito dispersa, afastada das Professoras neófitas e em reduzido número, também foram factores que ‘congelaram’ o debate e tornaram a interacção pouco desafiante.
5) A participação dos alunos do IEC.
Como disse, considerava à partida o acesso a este tipo de eventos, pela dimensão formativa que envolve, um privilégio para os alunos do IEC. Digo mais, se não for por eles, julgo que se pode por em causa a existência destas realizações. É por reconhecer a importância decisiva destas manifestações no seu percurso formativo que acredito ser necessário repensar o envolvimento dos alunos.
Tudo isto para dizer que fiquei desiludido com a reduzida participação dos alunos do IEC. Bem sei das atenuantes que se pode apresentar: aulas a decorrer, trabalhos para fazer, exames para preparar, …, um sem número de tarefas para cumprir. Nada que não tivesse ouvido de outros anos. Ainda assim, parece caber uma palavra de orientação e selecção acerca das experiências formativas que lhes são proporcionadas.
Dito isto, parece-me que seria necessário entrar noutro nível de análise que não me sinto habilitado a fazer, mas que o IEC urge concretizar, até como um ponto de ordem para a reformulação do percurso formativo (com ou sem Bolonha) e das prioridades que aí se definirem.
Ainda assim, uma ressalva para quem esteve presente, pois não é deles que este ponto se ocupa.
6) Análise de conteúdo a partir do blog (forma e conteúdo).
Já o disse, o painel jogava para mim uma função importante: poder dar feedback de alguns resultados preliminares aos Professores participantes da investigação. Para além do valor ético e moral da retribuição pela participação com a comunicação de alguns resultados, ainda que apenas a partir de uma ferramenta de recolha de dados (o blog), tornava-se importante um outro feedback que me interessava para a investigação: a reacção dos Professores aos primeiros resultados da investigação. Ora isso acabou por não acontecer nos termos em que desejava, a não ser em conversas de circunstância, já depois do decorrer do painel. Assim, reservo para próximos posts a possibilidade de divulgação, ainda que de forma sintética, desses resultados, esperando daí obter algumas reacções da vossa parte, se assim desejarem manifestar-se.
7) A conferência da Professora Maria do Céu Roldão – a propósito do blog.
Foi para mim um oásis dentro de uma experiência, como deu para perceber, mal digerida. Na sequência de outras conferências proferidas pela Professora Maria do Céu Roldão, às quais tenho assistido, mesmo no contexto das Jornadas da PP, é sempre para mim um prazer enorme ter a oportunidade de voltar a ouvi-la. Ainda assim esta foi especial, pois estava em causa uma leitura atenta do blog, como pretexto para uma conversa sobre a indução profissional.
Tenho de o admitir, acabei por sentir um misto de sentimentos algo contraditórios (não necessariamente opostos e nefastos): desde uma alegria enorme e uma certa vaidade ou orgulho no trabalho realizado, até uma grande surpresa/espanto pela abordagem ‘diferente’ do blog (talvez, melhor dito, da indução profissional), de todo inesperada, que me fez sentir um aprendiz com vontade de crescer, mas com muito por aprender e, sobretudo, viver!
Falta o discurso e isso é o essencial, mas, de qualquer maneira, aqui ficam os tópicos que podem indiciar o que perderam… para quem esteve ausente:
– Formadores orgulhosos – porquê?
– As dimensões do profissional – o que está afinal no centro?
– O professor mediador – entre quê e quê?
– Angústia para o jantar…
– Ter direito à vida pessoal ou… entrar na via mística?
– A que damos mais importância? … Ou dos riscos da deriva afectiva…
– Avaliar – um problema?!... Mas porquê?
– “Ajudar” os alunos… como é que se entende?
– Diferenciação – mas como?
– E os pais?
– Os rótulos – os deles e os nossos…
– Os grupos e os apoios mútuos – quem pode começar?... E continuar?
Entretanto, seguem-se os meus comentários… à “lista pós-leitura de blog”, que fiz questão de proferir logo após a intervenção da Professora Maria do Céu, e que aqui reproduzo:
a) Não sabia que o blog podia dar tanto! … Mas sei que o blog deu para tanto, não porque o blog tem tanto para dar, mas antes por causa do ‘olhar’ da Professora Maria do Céu sobre o blog…
b) Depois de ouvir a conferência, fiquei com a necessidade absoluta de fazer um acto de contrição como professor, investigador, mas sobretudo como pessoa que tem família, amigos, pais… e ainda bem (é sempre bom ter alguém que nos relembre das coisas fundamentais da vida). Espero continuar o meu trabalho, embora muitas vezes duvide e questione a minha capacidade; mantenho, ainda assim, a esperança que esta ‘angústia’ que me acompanha seja da ‘boa’ e me faça progredir…
c) Finalmente, o meu obrigado imenso por partilhar connosco a análise sobre a indução profissional, a condição de ser professor, a partir do blog; o meu obrigado ainda por dar-me o privilégio de fazer parte das suas relações.
Um comentário final ao painel "Ser Professor do 1CEB...":
Fiquei triste, sobretudo, porque reconheço um potencial muito significativo nas vossas experiências e no vosso conhecimento para o processo de formação que estava em causa no painel, e que não foi devidamente aproveitado e explorado…
Logo após o painel e em conversas sobre o desenrolar do mesmo várias vezes invoquei a metáfora do copo meio cheio ou meio vazio, referindo que não sabia em qual das situações me revia, perante o meu desempenho e as incidências que aqui tentei esclarecer.
Agora que a distância fez caminho, vejo que qualquer que fosse a minha escolha ela não disfarçaria um descontentamento pessoal, mas, sobretudo, a constatação que estamos perante um processo inacabado, por preencher. E isso, no que toca à formação de professores, não pode/deve ser deixado ao acaso, tendo como referência a formação integral das crianças.