Ser Professor do 1.º Ciclo

sábado, setembro 02, 2006

Fim...

Esta na hora de colocar um ponto final neste blog. Aliás, do ponto de vista da sua função ele já terminou por meados do mês de Julho. Contudo, deixei-o de portas entreabertas… Mas, como fomos de férias, ninguém veio espreitar, ninguém teve curiosidade… pelo menos não foi tão forte ao ponto de “matar o gato”…

Agora que estamos em Setembro, quero definitivamente virar de esquina, ainda sem saber muito bem que caminhos percorrer para chegar onde desejo chegar... Ainda assim tive um desejo súbito de dizer qualquer coisa, mas que fosse eloquente, que marcasse esta viragem…

Como não me sinto particularmente inspirado nem me considero propriamente um dotado nestas coisas da escrita, virei-me para os meus livros. Tive a sensação de uma vã esperança de um salvamento condenado ao fracasso pela penalização da passagem de responsabilidades, misturada com o cliché de quem se pendura nas palavras dos outros para dizer o que não sabe, e se não sabe não lhe vai na alma.

São poucos os livros, uns míseros exemplares de alguns que li na minha juventude e que me foram, ora clareando, ora formatando a minha existência. Li mais alguns, precisamente naquela fase em que queria mas não podia comprá-los.

Enfim, consumando a acto, fui pegando alguns livros até deter-me num em particular: “Nome de Guerra”, de Almada Negreiros. Marcou-me profundamente nos meus tempos de juventude avançada (19, 20 anos, para melhor precisar). Cheguei até a escrever um texto sob esse pseudónimo, num concurso de cartas de S. João promovido então pelo CEFOPE. Acharam-lhe graça, à carta, e ganhei. Soube que a concorrência também não lhe dava grande mérito, mas assim fiquei com essa fama, efémera, como quase todas…

Voltei a ler o livro no Verão do ano passado… Tinha‑o visto numa estante de uma livraria e quis ter aquele objecto. Que diferenças lhe notei? Ficam para mim… até porque não sei se tenho isso resolvido… mas mesmo que o tivesse.

Há outro livro que gostei imenso na minha adolescência: “Vinte mil léguas submarinas”, de Júlio Verne… Presumo que era por causa da atmosfera criada à volta do Nautilus e do Capitão Nemo… Recordo que, enquanto lia, ouvia uma música ambiente de Cocteau Twins (um grupo da chamada música alternativa da época), que me transportava às profundezas do mar…

Voltando ao “Nome de Guerra” e à tentação da citação, não sem antes dizer que uma coisa é desejar possuir um objecto que me fez recordar o passado, outra coisa é recuperar esse passado…, aqui ficam, então, duas frases com que terminam os dois últimos capítulos (e são estas porque são as últimas do livro…).

“A ciência, que não tem outro conhecimento que o das suas experiências, necessita de um espaço de tempo de que cada um de nós não dispõe. Se sujeitássemos a nossa vida ao conhecimento da ciência, acontecer-nos-ia o que às lâmpadas eléctricas que tiveram o mesmo processo perfeito de fabricação: nem todas acendem. E as que não acendem deitam-se fora. Não há tempo a perder com mistérios em ciência”.

“A condição para saber ver ao longe é estarmos dentro de nós se se trata do próprio, ou de ter renunciado a si mesmo se se trata dos outros”.

1.ª imagem - Auto-retrato de Almada Negreiros.
2.ª imagem - Desenho de Fernando Pessoa por Almada Negreiros.

sexta-feira, julho 21, 2006






Boas Férias!





quinta-feira, julho 20, 2006

Para finalizar

Serve este post para finalizar o blog, fechar portas. Foi já em Novembro de 2005 que iniciámos uma viagem que acabou por durar cerca de 7 meses. Muitas coisas aconteceram… Em termos pessoais, o blog é um espelho de algumas dessas incidências. Cada um poderá fazer também esse mapa, mais ou menos preenchido. Estamos agora às portas das desejadas férias de Verão e o movimento do blog, como seria de esperar, não é mais do que nulo.

Assim, com uma certa nostalgia de quem já está a pensar noutros passos a dar, e porque também não vale a pena protelar algo que já sabia que tinha de terminar, escrevo estas palavras para colocar um ponto final oficial neste espaço apelidado de “Ser Professor do 1.º Ciclo” que pretendia acompanhar e dinamizar um processo de investigação sobre a construção do conhecimento profissional na formação inicial e no período de indução.

O ritmo do blog dos últimos tempos está à semelhança do meu ritmo de trabalho: devagar, devagarinho… e com pouco ânimo. Queria fazer destas palavras algo de significativo, mas estão também elas destituídas de chama, o que me entristece, pois o blog e as pessoas que participaram nele merecem a minha consideração e reconhecimento, pela colaboração, pelo empenho e, sobretudo, pelo valor do conteúdo expresso no mesmo.

Não quero também fazer deste post um adeus definitivo. Penso mais num “até já” ou num “até sempre”, num virar de esquina para outras dinâmicas que nos possam um dia voltar a juntar numa outra encruzilhada da vida.

Este texto também sofre de um estado de moleza que tomou conta de mim… Por isso, não é de esperar grandes rasgos. Aliás, o encontro do dia 12 com as Professoras que estiveram presentes, às quais desde já agradeço, foi um exemplo concreto dessa ociosidade. Ficaram algumas ideias, valeu pelo convívio, mas faltou-lhe animação, alegria. E isso, à semelhança das Jornadas da Prática, foi assim pelas (in)decisões que envolveram a sua organização e propósitos. Apesar desse sentimento, que analisei de forma exaustiva num outro post, também não faço disso uma sentença muito penalizadora. Poderia, eventualmente, ser diferente, mas o essencial do processo de investigação foi conseguido e julgo de forma muito satisfatória. Fica também aqui expressa a possibilidade de voltarmos a ver-nos em Setembro, agora também com as pessoas que não puderam estar presentes neste último encontro.

Faço uma excepção ao encerramento do blog para dizer que continuo à espera (sou chato) de mais comentários ao post “O processo de investigação em análise...”. Há pessoas que participaram com regularidade no blog, que ainda não comentarem esse post, e das quais gostaria de ouvir (ler) algumas palavras. Assim, apesar do encerramento oficial, a via fica aberta até mais ver…

O agradecimento final. Provavelmente vão ouvir falar de mim, talvez os chateie mais algumas vezes, mas por agora quero agradecer a vossa participação e colaboração. Quero também desejar-lhes umas boas férias, merecidas e retemperadoras… à espera de um novo ano, um novo ciclo, novas crianças, novos colegas. Mais um ano de experiência profissional e de experiências que espero sejam muito proveitosas.

Boa sorte para todos… Devia dizer para TODAS, pois sem desmerecimento do Nuno e do Zé Pedro, tanto pelo número como pelo mérito da participação neste blog, as Professoras (con)venceram. Afinal, será esta uma profissão eminentemente feminina? Invoco aqui as razões do afecto, das relações interpessoais, da disponibilidade. Contudo, não são de ignorar as razões históricas da guarda de crianças, do reconhecimento social, da valorização profissional, do estatuto remuneratório.

Bem-haja e até sempre. Um Abraço amigo, Carlos.

quarta-feira, junho 21, 2006

Ainda a Finlândia… notas soltas.

Olá a todos.

Há muito matéria para comentar no blog. Ainda assim, numa perspectiva de economia de esforço, sem coarctar a iniciativa e a vontade individual, preferia que concentrassem os comentários no post “O processo de investigação em análise...”.

Mais uma vez volto ao vosso contacto, aos meus fiéis leitores, que neste momento não devem ser muitos, para recuperar um post anterior e cumprir uma promessa: voltar a escrever sobre a viagem à Finlândia, agora que voltei já lá vão três semanas. A distância temporal pode fazer esquecer pormenores mas faz sobressair aquilo que valorizamos mais. Assim, em jeito de notas soltas, aqui vão alguns comentários sobre a viagem, sobre a conferência e sobre as escolas:

Na sua globalidade a conferência internacional acabou por ser um momento de convívio, depois de previamente se ter feito um esforço de sistematização e síntese de alguns dados relativos à investigação em causa. Nessa medida resultou plenamente, para além da necessidade de cuidar do inglês, pois é nas alturas que damos conta da sua importância. Também é nestas circunstâncias que percebemos que a aprendizagem em contexto faz todo o sentido.

A conferência também resultou num espaço de diálogo interculturas, de tomada de consciência da dimensão do global, muitas vezes em harmonia, outras vezes em dissonância, com a dimensão do local. Não raras vezes dei por mim, em processos demasiado dicotómicos e simplistas, a estabelecer pontos de comparação entre coisas que não sei se são possíveis de estabelecer analogias. Certo é que essa tendência, pouco racionalizada, resultou quase sempre em prejuízo do contexto português…

Serviu também para estabelecer alguns contactos internacionais. Relações que podem, numa ou noutra circunstância, ser rentabilizadas em benefício da nossa experiência profissional e pessoal.

O simpósio em que participei é fruto de uma parceria entre o IEC e a ESE de Santarém. Tratam-se de duas instituições de formação que comungam e partilham modelos e experiências de formação com perspectivas construtivistas, que têm como estratégias fundamentais a prática reflexiva e a construção de Projectos Curriculares Integrados. Este evento acabou por funcionar como uma forma de sistematização e consolidação deste projecto de formação, onde estão a decorrer duas investigações sobre a construção do conhecimento profissional.

Já o tinha dito, agradou-me particularmente a receptividade e o reconhecimento do simpósio e dos estudos apresentados. Modéstia à parte, foi dos simpósios mais concorridos, com uma estrutura de apresentação coerente e com o conteúdo devidamente articulado. Isto mesmo foi devidamente reconhecido pelos diferentes participantes, das mais diversas partes do mundo (Macau, Turquia, Espanha, Finlândia, Portugal, …), que nos dirigiram palavras de incentivo e de parabéns pelo trabalho realizado.

Admirei também as condições do Centro de Congressos onde decorreu este evento. Uma estrutura independente, de iniciativa privada, com condições excelentes, onde há espaço e requisitos para as mais diversas manifestações humanas (convívios, exposições, workshops, conferências, teatro, ópera, …).

Não tive oportunidade de visitar escolas do ‘1.º Ciclo’ (‘comprehensive school, lower stage’, 1.º ao 5.º ano de escolaridade – 7 aos 12 anos). Ainda assim acabei por visitar uma escola do ‘2.º Ciclo’ (‘comprehensive school, upper stage or junior secondary’ – 6.º ao 9.º ano de escolaridade), ligada aos processos de formação de professores da Universidade de Tampere. Uma escola estatal por comparação com outras escolas de responsabilidade municipal. Pelo que entendi, apenas muda as fontes de financiamento, pois o seu funcionamento é basicamente o mesmo.

A escola ‘básica’ finlandesa oferece um programa de 9 anos de escolaridade obrigatória, ao qual se acrescenta um 10.º ano de frequência voluntária. Antes dos 9 anos de escolaridade existe um ano de ‘educação pré-escolar’ (6/7 anos), de frequência generalizada, garantido nas escolas do ‘1.º ciclo’ ou por ‘jardins-de-infância’. Estes ‘centros de educação pré-escolar’ estão habilitados a receber crianças desde o primeiro ano de vida.

Depois de completarem a educação obrigatória os estudantes podem seguir para a ‘escola secundária’ (‘upper secondary school’), que garante três anos de educação generalista (10.º ao 12.º ano de escolaridade). Podem ainda seguir a via da educação vocacional que pode demorar a completar entre 2 a 6 anos. Um em dois finlandeses completa o nível da ‘escola secundária’ e 23% possui um grau de qualificação superior.

Uma nota sobre as condições materiais das escolas. Presumo que nos quiseram mostrar algo que pudesse deixar uma boa impressão. Faria de igual modo se fosse incumbido da mesma tarefa em Portugal. Ainda assim, por comparação (cá está a tendência), fiquei impressionado com excelente nível de qualidade e com a diversidade dos equipamentos das escolas. Desde os espaços comuns, às salas, aos gabinetes para os professores, até à biblioteca, à cantina, ao bengaleiro, aos materiais para as expressões artísticas, tudo parecia estar pensado em função dos alunos. A mesma impressão trespassou nos comentários de colegas que tiveram a oportunidade de realizar a visita a uma escola do ‘1.º Ciclo’.

Faltou perceber como está organizado, que actividades desenvolvem, que conteúdos trabalham no pré-escolar (por exemplo, como trabalham as questões da iniciação à leitura e escrita). Contudo, registei o facto de as crianças na Finlândia iniciarem o seu percurso ‘escolar’ obrigatório apenas aos 7 anos. Pelo que pude apurar, para começarem a escola mais cedo têm que indiciarem um processo que, em última instância, é decidido pelas autoridades educativas.

Na escola que visitei tive oportunidade de acompanhar grupos temáticos mais pequenos. Esses grupos, formados por interesses específicos, foram acompanhados por professores especializados no âmbito desses interesses. Acabei por escolher, por influência da Professora Luísa, a educação especial, embora também fiquei curioso pela parte das TIC. A senhora com quem falámos era assistente social com formação em Psicologia. Coordena uma equipa multidisciplinar, constituída por professores. A ideia com que fiquei é que há uma verdadeira preocupação de integração na escola, não só pelos aspectos relacionados com as dificuldades de aprendizagem das crianças, mas numa perspectiva mais abrangente, onde se inclui os afectos, os interesses, os conflitos. Verifiquei um acompanhamento permanente e um conhecimento detalhado de todos os alunos da escola, procurando ter intervenções precoces com carácter preventivo ou possam minimizar danos.
Ainda assim, já numa parte mais avançada da conversa, deu para perceber que a sociedade finlandesa debate-se actualmente com alguns problemas sociais, cuja dimensão não sei explicitar, mas que foram apresentadas como verdadeiras preocupações ao nível da população estudantil, e que mereceriam uma outra reflexão. Aqui ficam as referências que me chamaram a atenção: o alcoolismo, o suicídio, as famílias desestruturadas, os conflitos nas interacções sociais (sobretudo entre raparigas), o bulling (mais entre os rapazes).

Impressionou-me as salas de expressão e educação plástica. As salas mais pareciam ateliers de pintura, escultura. Bancas cheias de materiais, salas e corredores decorados com autênticas obras de arte produzidas pelos alunos. Tudo num ambiente muito informal, mas ao mesmo tempo muito profissional.

Além do gabinete de Educação Especial, também pude averiguar que há uma enfermeira a tempo inteiro na escola e visitas semanais de um médico, que observa alunos por sugestão da enfermeira e da equipa de educação especial e pode encaminhá-los, caso se torne necessário, para outros serviços especializados fora do âmbito da escola.

Os professores da Finlândia também discutem a autonomia da escola, a gestão curricular que possa permitir o equilíbrio entre as especificidades locais, os interesses divergentes e a identidade nacional, os conhecimentos estruturantes. Depois de uma experiência marcada pela acentuada autonomia da escola na decisão curricular, com dinâmicas locais muito activas e com o envolvimento dos professores, actualmente vive-se o surgimento de alguns mecanismos e políticas que acentuam o controlo estatal, que pretendem uniformizar procedimentos e conhecimentos, muito influenciados pela demanda neo-liberalista que induz uma forte pressão sobre os resultados e preconiza os rankings das escolas.

Também tem estado em causa o estatuto social e remuneratório dos professores. Parece que, segundo negociações que estão ainda a decorrer, se caminha para uma relação mais estreita e personalizada entre professor e estado ou entidade patronal, onde parece haver margem de manobra negocial, diferenciando os professores por factores de mérito, experiência profissional e outros que não sei concretizar. Não me perguntem como fazem, mas seria interessante perceber um pouco melhor estas ideias e a concretização das mesmas. Ainda assim, não se deve incorrer em analogias directas e precipitadas, pois tornava-se necessário perceber as condições do contexto finlandês.

segunda-feira, junho 19, 2006

Blog quanto ao conteúdo

Na continuação do post anterior, apresento de seguida os resultados preliminares da análise de conteúdo feito a partir do blog. Trata-se de uma selecção (longe de ser exaustiva) de alguns temas-chave emergentes sobre a construção do conhecimento profissional no processo de se tornar num professor do 1CEB, que a leitura do blog acabou por fazer emergir. Tento, assim, dar visibilidade a alguns aspectos que me parecem ser mais recorrentes nas vossas intervenções.

Estamos perante uma riqueza e uma densidade enorme de situações relacionadas com a construção do conhecimento profissional. Isto pode ser justificado um pouco pelo facto de reverterem as reflexões das entrevistas e dos registos individuais para o blog, tornando visíveis os aspectos mais significativos acerca do processo de construção do conhecimento profissional.

Os resultados conseguidos no blog são, sobretudo, fruto de uma postura reactiva à moderação e dinamização do mesmo. Os dados das entrevistas e dos registos escritos devem ser combinados com os dados do blog para validar o processo de análise de conteúdo.


3. Blog quanto ao conteúdo

1) Os professores neófitos referem com insistência o interesse e a vantagem de participarem em processos de investigação inovadores para o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Alguns dos aspectos mais citados pelos professores são a participação na investigação como uma ajuda para a reflexão, a continuidade dos processos de formação, os ganhos ao nível do enriquecimento profissional e pessoal, a vontade de trabalhar em comum, a participação numa experiência inovadora e pioneira, a possibilidade de aprender com as experiências dos colegas, de reflectir e partilhar experiências concretas.


2) Os professores neófitos apreciam a formação inicial de forma muito positiva, referindo-se a um nível superior de qualidade em relação a outros contextos de formação.

Estabelecem uma forte correlação entre as aprendizagens da formação inicial e as orientações que assumem na actividade profissional. Acreditam que nenhuma formação inicial os pode preparar para tudo, assim como acreditam que lhes proporcionou instrumentos e competências para enfrentar os diferentes contextos escolares com sucesso.


3) A profissão docente no 1CEB como uma actividade profissional intensa, a tempo inteiro, desgastante e absorvente.

É uma actividade que não pode ser assumida como um emprego, pois não é possível desligar e deixar de pensar na escola, nas crianças. Algo lhes diz que existe um desígnio maior, um dever profissional, que orienta e move a actividade profissional, apesar das dificuldades e dos contextos nem sempre serem os mais favoráveis. Para lá do momento da intervenção e da interacção com as crianças, existem um sem número de situações que é preciso cuidar. Assim, ser professor do 1CEB é uma forma de vida, uma forma de estar, muitas vezes com prejuízo da vida pessoal.


4) A formação inicial iniciou um processo de construção de um perfil profissional baseado na investigação, reflexão e colaboração, conceitos centrais dos processos de formação desenvolvidos pelo IEC, da UM.

Trata-se de uma marca que os distingue como profissionais e que não encontram noutros contextos de formação. É um perfil profissional que precisa de ser alimentado e está em constante questionamento, pelo que se trata de um processo de aprendizagem e construção ao longo da vida.


5) A importância da construção de Projectos Curriculares Integrados na formação inicial e no período de indução, simultaneamente como instrumento fundamental para a mediação dos processos de aprendizagem das crianças e para a gestão flexível do trabalho curricular dos professores.

Salienta-se ainda a flexibilidade dos pressupostos da construção do Projecto Curricular, em função dos contextos escolares, da comunidade docente, das crianças que temos na sala de aula. Relacionado com o desenvolvimento do Projecto Curricular Integrado, encontra-se um conjunto de outras situações que definem a intervenção pedagógica e curricular com a qual os professores principiantes se identificam e dizem constituir a sua matriz de trabalho, nomeadamente a metodologia de projecto, a articulação curricular, o aprender a aprender, o desenvolvimento de competências.


6) Há uma preocupação evidente pelos aspectos didácticos, pois consideram esta dimensão menos conseguida na sua formação e susceptível de provocar dúvidas e insegurança, até pelo facto de serem professores principiantes.

Há preocupações específicas ao nível da leitura e da escrita da língua materna. Apesar da consciência de algumas lacunas na formação inicial ao nível das didácticas, há, ainda assim, uma percepção de um trabalho bem conduzido e que não é possível especificar todos os aspectos que serão objecto de preocupação na actividade profissional. Assim, fica também a noção bem vincada, em consonância com o perfil profissional do professor, da necessidade/vontade de aprender com a experiência e com a formação contínua.


7) O período de indução profissional é apreciado pelos professores neófitos como um momento onde não há qualquer apoio institucional, onde a insegurança acaba por tomar um espaço importante nas suas preocupações.

Muitas vezes vêem-se na necessidade de lidar com conflitos decorrentes de um certo confronto com os colegas mais velhos, que consideram as suas práticas demasiado complexas, esforçadas, como quem pretende mudar o mundo. Torna-se necessário realizar um salto emocional e relacional para enfrentar os contextos profissionais, em grande parte dos casos sem qualquer ajuda, o que faz retrair as iniciativas mais voluntaristas. Mas também aceitam como um desafio as dificuldades que encontram nos contextos profissionais, demonstrando confiança na formação inicial que obtiveram.


8) Os aspectos burocráticos imperam na gestão de muitas escolas e desviam os professores sua verdadeira função: ensinar e inovar as práticas.

O tempo é sentido como um bem muito escasso, devido à intensificação da actividade curricular e de todas as solicitações que daí decorrem: as crianças, os pais, as dificuldades de aprendizagem, os ritmos diferenciados, a articulação curricular. As reuniões de professores, pelos mais diversos motivos, o preenchimento de papéis, os relatórios para fazer, acabam por ser situações que fazem esgotar a paciência, já de si nos limites com a intensificação do trabalho. A dita burocracia torna visível a sensação de que se está a trabalhar de uma forma pouco produtiva e, sobretudo, sem grande repercussão para aquilo que mais valorizam e gostariam de estará a fazer, que diz respeito ao trabalho curricular e pedagógico. A sensação generalizada é a de perda de tempo com consequente perda de vontade de apostar em práticas inovadoras.

sexta-feira, junho 16, 2006

Blog quanto à forma

Como disse no último post, as Jornadas tinham também uma função de duplo feedback relativo a uma análise de conteúdo que fiz a partir do blog. Acabei por apresentar esses resultados preliminares às pessoas presentes nas Jornadas, mas não obtive uma reacção explícita aos mesmos. Assim, aproveito o blog, e na sequência do post anterior, para divulgar, ainda que de forma sucinta, essa análise de conteúdo, esperando obter algumas reacções da vossa parte, se assim desejarem.


1. O blog – Ser Professor do 1.º Ciclo

O blog, como está escrito na sua identificação, foi concebido como um espaço permanente de expressão livre de ideias, sentimentos, críticas, posições, vivências acerca da participação (quanto à forma e ao conteúdo) no processo de investigação.

O blog foi simultaneamente uma ferramenta metodológica e uma estratégia formativa pois permitiu:
(a) A integração do desenho da investigação;
(b) A regulação e supervisão reflexiva do processo;
(c) A construção de um espírito de grupo e de pertença a uma comunidade específica de investigação-acção, unida por laços de identidade, de amizade e partilha de significados.

Tentei fazer uma dupla análise do blog (forma e conteúdo) , ainda que com um carácter exploratório e procurando seleccionar alguns temas-chave emergentes sobre a construção do conhecimento profissional no processo de se tornar num professor do 1CEB (conteúdo, ver próximo post). Este post dedica-se à análise do blog como instrumento de recolha de dados e de regulação da investigação (forma).


2. Blog quanto à forma

A seguir apresento, de forma sucinta, os aspectos que considerei pertinentes relativamente ao blog, como um instrumento utilizado na recolha de dados e na regulação da investigação:

– O blog funcionou como prolongamento e alargamento das discussões suscitadas no seio dos grupos durante as entrevistas.

– Permitiu manter, para alguns professores, um espírito de pertença a um grupo de investigação.

– Ao contrário das entrevistas, onde os professores têm uma necessidade absoluta de falarem sobre as suas experiências profissionais, no blog a participação e os discursos acabam por ser mais filtrados.

– A comunicação assíncrona funcionou como um entrave para manter as discussões vivas e divergentes, devido à elevada exigência do processo intelectual.

– Questionou-se o tipo de intervenção feita no blog, com uma linguagem formal, teórica e, por isso, desajustada para o meio utilizado (que induzia, pelo contrário, discursos mais informais), o que dificultou o relacionamento com o mesmo, levando à sua rejeição.

– A escrita parece ter sido um entrave à participação, desde logo porque exige um esforço intelectual sistematizado.

– Associado à escrita no blog, como factor de inibição, está relacionado o carácter público da opinião (sancionar, imagem a preservar).

– A participação do blog em conflito com a gestão do tempo profissional e pessoal (prioridades).

– O carácter liberal, não compulsivo e assíncrono da participação associado às prioridades levou a que a participação no blog fosse colocada em questão.

Feedback positivo acerca do interesse e do significado dos temas e das reflexões do blog.

– Os professores afirmam acompanhar o blog com frequência, de lerem o blog com interesse.

– O passo seguinte, da participação, pelos motivos apontados tornava-se complicado de dar.

– A participação torna-se reactiva à moderação e dinamização feita pelo investigador responsável.

– A moderação assume um carácter decisivo na dinâmica do blog, na sua manutenção, ainda que, por vezes, só com a função de leitura.

Utilização de outros meios de mobilização, para além das entradas no blog. A acompanhar os ‘posts’, fez-se contactos via SMS, via correio electrónico e, nalguns casos, através do telemóvel. Numa primeira fase, este tipo de moderação e incentivo à participação acabava por ter resultados, situação que se foi diluindo conforme o tempo foi passando.

– A tecnologia envolvida também foi uma questão que acabou por influenciar a participação dos professores. Apesar de haver um controlo dos participantes a partir de uma amostra por conveniência onde havia critérios a cumprir – um dos quais era ter acesso à Internet nos contextos de trabalho e pessoais –, também aqui tivemos alguns problemas.

quarta-feira, junho 14, 2006

As Jornadas de PP’06 – Partilha de experiências.

Viva, como estão todos, neste final de ano lectivo, presumo muito atarefado, que rapidamente se aproxima do seu desfecho?

Um olá muito especial para as Professoras presentes nas Jornadas de PP, a saber: a Elisabete, a Olga, a Beatriz, a Ana, a Luciana e a Paula. Também um olá muito especial para Elisabete Abreu, que nos deu o prazer da sua companhia nestas Jornadas, e para a Carla Leite que, horas mais tarde, se juntou ao nosso convívio.

Por onde começar este post sobre o painel “Ser Professor do 1.º Ciclo: construção do conhecimento profissional”, realizado no âmbito das Jornadas de PP’06?

Talvez, antes de mais, dizer que não sei ainda ao certo o que escrever. Melhor dito, não sei muito bem como dizer certas coisas que me têm perpassado pela cabeça, a propósito da concretização do painel, e que persistem de uma forma recorrente desde essa altura. Não sei muito bem como dizê-las porque, até agora, apesar de um esforço de verbalização e contrastação das mesmas, contínuo por não tê-las devidamente resolvidas, pelo que neste momento não sei ainda qual vai ser o resultado do texto que agora tento dar forma. Trata-se, pois, de um duplo exercício, que tenta fazer a interpretação dos sentimentos que as Jornadas acabaram por despoletar e das situações que os desencadearam. A ver vamos se serei capaz.

Para me sentir orientado neste trabalho de análise sobre o painel e sobre as minhas reacções ao mesmo, começo por tentar estruturar uma lista de assuntos a tratar, à volta dos quais queria explanar alguns dos raciocínios que ocupam os meus pensamentos: o silêncio, os agradecimentos, a apresentação da investigação, a vossa participação, a participação dos alunos do IEC, a análise de conteúdo a partir do blog (forma e conteúdo), a conferência da Professora Maria do Céu Roldão.


1) O silêncio.

Vivo estes dias, é já lá vão alguns dias desde a realização do painel, com a nítida percepção que tenho um nó por deslindar, que acaba por ser a ponta de um novelo mais amplo e complexo. Por outro lado, tenho também, neste momento, a sensação de incapacidade para o desfazer, pelo que o risco que corro agora é sempre de torná-lo ainda mais apertado e embrenhado. Contudo, percebo que o silêncio que criei, quase como um refúgio, também não ajuda ao esclarecimento.

Além do mais este espaço não se compadece de silêncios, pois apenas contribuem para a sua ausência e consequente negação da sua existência. Percebo ainda que, de forma legítima, haja quem esteja à espera de uma reacção. Por tudo isto, não posso mais escudar-me na gestão dos silêncios. E, na lógica da exposição pública do blog, nada melhor do que o blog para agitar as águas.


2) Os Agradecimentos.

Um discurso que faz sentido neste espaço, porque é sentido, diz respeito aos agradecimentos. E não se pense que é uma linguagem fácil de palavras previamente feitas. De facto, às Professoras presentes, queria deixar o meu obrigado pelo esforço, pela consideração, pela atenção. Sei que a vossa presença acaba por traduzir uma vontade que foi capaz de diluir obstáculos e que representa uma forte consideração pelo trabalho de investigação. Acredito também que esse é o sentimento das pessoas que lamentaram, pelos argumentos apresentados, não poder estar presentes.

Por isso, não queria deixar de dizer que a vossa presença foi sentida como uma tradução de compromissos anteriores, sem querer esquecer outras pessoas que também contribuíram de forma valiosa para a investigação, e que por um ou outro motivo válido, não puderam estar presentes. Não esqueço também o facto deste evento não estar inicialmente previsto no plano de trabalhos que estabelecemos num protocolo de colaboração/investigação que fiz com cada um de vocês.


3) A apresentação da investigação.

Eu tinha já apresentado, em diferentes contextos, versões desta mesma comunicação que fiz nas Jornadas. Na Finlândia tive pela primeira vez a oportunidade de dar a conhecer a investigação tal e qual está a decorrer. Por isso, tendo em atenção o contexto e o púbico, e ainda o facto de já estar familiarizado com o conteúdo da mesma, achei que havia razões para estar confiante em relação à sua aceitação. Pensei mesmo que esta era a “comunicação”, pois podia-lhe dedicar um pouco mais de tempo, detalhando alguns pormenores que não fiz em ocasiões anteriores. Também pensei que a apresentação de alguns resultados preliminares aos professores participantes na investigação, na fase em que estamos, seria visto como uma oportunidade única de reflexão e análise acerca dos mesmos, para além do cumprimento de um dever ético e moral decorrente de princípios de transparência e de rigor da investigação.

Depois, um estudo desta natureza, relacionado com a indução e a construção do conhecimento profissional, julgo eu, reunia todos os ingredientes para chamar a atenção dos alunos do IEC. Se juntarmos a isto tudo, a possibilidade de ouvir, de viva voz, experiências profissionais de ex-alunos formados pelo IEC, e de interpelá-los e confrontá-los com as suas preocupações, parecia-me estar criado um cenário de excelência em termos formativos.


4) A vossa participação.

O princípio da ‘partilha de experiências’, com o qual se proclamava as Jornadas deste ano, parece não ter sido devidamente cumprido no painel em que participaram. Parece ser, à partida, um juízo demasiado forte e, eventualmente, injusto, mas foi essa a percepção que construí. Este foi dos aspectos que mais mágoa me deixou, para além da baixa participação dos alunos do IEC, que tratarei no ponto seguinte. Ao dizer isto não lhes estou a atribuir qualquer responsabilidade directa. Parece ter havido um conjunto de factores que resultaram numa inibição pouco comum para as pessoas em questão, até pelo conhecimento e experiência que tenho da vossa forma de ser e estar na vida.

Gostava de perceber, e deixo-vos aqui o repto, por que é que não funcionou? Quais foram, no vosso entendimento, as razões que induziram este resultado? Desde já deixo aqui as minhas deduções, ainda que levadas a um extremo da análise.

a) Roubei-vos protagonismo. A razão de ser deste painel deveria ser a ‘partilha de experiências’. A partir das mesmas seria possível perceber o que é ser professor do 1CEB e como fazem a construção do conhecimento profissional, numa transição fundamental que é a passagem da formação inicial para o período de indução.

b) Relacionada com a questão do protagonismo, entronca a preparação do painel que me parece agora não ter sido a mais feliz. Talvez fosse de exigir algo de mais explícito aos grupos de investigação, promovendo a sua apresentação formal, através de um porta-voz.

c) A minha intervenção parece também ter retirado eficácia aos possíveis contributos da Dra. Altina e da Dra. Isabel. De qualquer modo, a ideia seria desafiar a audiência e o grupo de Professores que fez parte da investigação, mas em ambos os casos, por razões diversas, pareciam, logo à partida, estarem desmobilizados.

d) A minha moderação foi pouco incisiva. Julgava eu que os ingredientes do painel eram suficientemente interessantes para termos, quase como por geração espontânea, um momento vivo e rico de ‘partilha de experiências’. O meu pensamento prévio estava mais na hipótese de como ter que cortar e controlar a participação. Em face de uma palidez geral, fiz várias tentativas para ‘despertar’ e provocar a participação da audiência e das Professoras neófitas, mas sempre com resultados muito parcos.

e) A distribuição das pessoas no auditório, nomeadamente a vossa, não foi a mais favorável. Não sei porquê, mas sempre resistiram a assumir protagonismo e a passar para o ‘palco’ das atenções, enfrentando ‘de frente’ a audiência. A própria distribuição da audiência, muito dispersa, afastada das Professoras neófitas e em reduzido número, também foram factores que ‘congelaram’ o debate e tornaram a interacção pouco desafiante.


5) A participação dos alunos do IEC.

Como disse, considerava à partida o acesso a este tipo de eventos, pela dimensão formativa que envolve, um privilégio para os alunos do IEC. Digo mais, se não for por eles, julgo que se pode por em causa a existência destas realizações. É por reconhecer a importância decisiva destas manifestações no seu percurso formativo que acredito ser necessário repensar o envolvimento dos alunos.

Tudo isto para dizer que fiquei desiludido com a reduzida participação dos alunos do IEC. Bem sei das atenuantes que se pode apresentar: aulas a decorrer, trabalhos para fazer, exames para preparar, …, um sem número de tarefas para cumprir. Nada que não tivesse ouvido de outros anos. Ainda assim, parece caber uma palavra de orientação e selecção acerca das experiências formativas que lhes são proporcionadas.

Dito isto, parece-me que seria necessário entrar noutro nível de análise que não me sinto habilitado a fazer, mas que o IEC urge concretizar, até como um ponto de ordem para a reformulação do percurso formativo (com ou sem Bolonha) e das prioridades que aí se definirem.

Ainda assim, uma ressalva para quem esteve presente, pois não é deles que este ponto se ocupa.


6) Análise de conteúdo a partir do blog (forma e conteúdo).

Já o disse, o painel jogava para mim uma função importante: poder dar feedback de alguns resultados preliminares aos Professores participantes da investigação. Para além do valor ético e moral da retribuição pela participação com a comunicação de alguns resultados, ainda que apenas a partir de uma ferramenta de recolha de dados (o blog), tornava-se importante um outro feedback que me interessava para a investigação: a reacção dos Professores aos primeiros resultados da investigação. Ora isso acabou por não acontecer nos termos em que desejava, a não ser em conversas de circunstância, já depois do decorrer do painel. Assim, reservo para próximos posts a possibilidade de divulgação, ainda que de forma sintética, desses resultados, esperando daí obter algumas reacções da vossa parte, se assim desejarem manifestar-se.


7) A conferência da Professora Maria do Céu Roldão – a propósito do blog.

Foi para mim um oásis dentro de uma experiência, como deu para perceber, mal digerida. Na sequência de outras conferências proferidas pela Professora Maria do Céu Roldão, às quais tenho assistido, mesmo no contexto das Jornadas da PP, é sempre para mim um prazer enorme ter a oportunidade de voltar a ouvi-la. Ainda assim esta foi especial, pois estava em causa uma leitura atenta do blog, como pretexto para uma conversa sobre a indução profissional.

Tenho de o admitir, acabei por sentir um misto de sentimentos algo contraditórios (não necessariamente opostos e nefastos): desde uma alegria enorme e uma certa vaidade ou orgulho no trabalho realizado, até uma grande surpresa/espanto pela abordagem ‘diferente’ do blog (talvez, melhor dito, da indução profissional), de todo inesperada, que me fez sentir um aprendiz com vontade de crescer, mas com muito por aprender e, sobretudo, viver!

Falta o discurso e isso é o essencial, mas, de qualquer maneira, aqui ficam os tópicos que podem indiciar o que perderam… para quem esteve ausente:

– Formadores orgulhosos – porquê?
– As dimensões do profissional – o que está afinal no centro?
– O professor mediador – entre quê e quê?
– Angústia para o jantar…
– Ter direito à vida pessoal ou… entrar na via mística?
– A que damos mais importância? … Ou dos riscos da deriva afectiva…
– Avaliar – um problema?!... Mas porquê?
– “Ajudar” os alunos… como é que se entende?
– Diferenciação – mas como?
– E os pais?
– Os rótulos – os deles e os nossos…
– Os grupos e os apoios mútuos – quem pode começar?... E continuar?

Entretanto, seguem-se os meus comentários… à “lista pós-leitura de blog”, que fiz questão de proferir logo após a intervenção da Professora Maria do Céu, e que aqui reproduzo:

a) Não sabia que o blog podia dar tanto! … Mas sei que o blog deu para tanto, não porque o blog tem tanto para dar, mas antes por causa do ‘olhar’ da Professora Maria do Céu sobre o blog…

b) Depois de ouvir a conferência, fiquei com a necessidade absoluta de fazer um acto de contrição como professor, investigador, mas sobretudo como pessoa que tem família, amigos, pais… e ainda bem (é sempre bom ter alguém que nos relembre das coisas fundamentais da vida). Espero continuar o meu trabalho, embora muitas vezes duvide e questione a minha capacidade; mantenho, ainda assim, a esperança que esta ‘angústia’ que me acompanha seja da ‘boa’ e me faça progredir…

c) Finalmente, o meu obrigado imenso por partilhar connosco a análise sobre a indução profissional, a condição de ser professor, a partir do blog; o meu obrigado ainda por dar-me o privilégio de fazer parte das suas relações.


Um comentário final ao painel "Ser Professor do 1CEB...":

Fiquei triste, sobretudo, porque reconheço um potencial muito significativo nas vossas experiências e no vosso conhecimento para o processo de formação que estava em causa no painel, e que não foi devidamente aproveitado e explorado…

Logo após o painel e em conversas sobre o desenrolar do mesmo várias vezes invoquei a metáfora do copo meio cheio ou meio vazio, referindo que não sabia em qual das situações me revia, perante o meu desempenho e as incidências que aqui tentei esclarecer.

Agora que a distância fez caminho, vejo que qualquer que fosse a minha escolha ela não disfarçaria um descontentamento pessoal, mas, sobretudo, a constatação que estamos perante um processo inacabado, por preencher. E isso, no que toca à formação de professores, não pode/deve ser deixado ao acaso, tendo como referência a formação integral das crianças.

sexta-feira, junho 02, 2006

O processo de investigação em análise...

Mais um post, da minha parte, um dos últimos, se não mesmo o último. Queria fazer um apelo, mais um, à vossa participação, agora que nos estamos a aproximar das Jornadas da Prática Pedagógica e do encerramento oficial deste blog, pelo menos para os fins que foi proposto.

É precisamente pensando no processo de investigação e no blog, e olhando para o pouco movimento que apresenta, fruto de várias circunstâncias que já fomos discutindo, que gostaria de vos pedir uma última intervenção com um carácter, diria mesmo, ‘obrigatório’.

Estamos a terminar um processo que já ultrapassa os seis meses. Participaram numa sequência de três entrevistas de grupo sobre, respectivamente, “a formação inicial”, “o período de indução profissional” e “o projecto profissional e pessoal”. Fizeram, acto contínuo, três registos escritos por cada uma das entrevistas (alguns estão ainda a fazer o último registo!). E, finalmente, foram acompanhando o processo, de uma forma mais ou menos presente, com a vossa participação neste blog de discussão sobre o processo de investigação e sobre as temáticas que foram surgindo nas entrevistas ou outras que acabaram por ser objecto de análise neste espaço.

Aquilo que vos pedia, como forma de culminar este processo, era uma opinião pessoal e profissional acerca da vossa participação neste processo de investigação. O que foi para vós participar neste trabalho? O que mais vos agradou? Como se sentiram ao ler e escrever (ou não, para aqueles que não foram tão assíduos) neste blog? Quais foram as vossas dificuldades? Que pensamentos recorrentes surgiram quando pensaram no 'Professor Carlos' e no trabalho que vos propus?

Façam as vossas intervenções; escrevam aquilo que mais vos marcou. Façam um, dois, três comentários; quantos quiserem sobre os mais diversos aspectos… Aguardo com expectativa este processo de auto e hetero-avaliação do processo e dos intervenientes da investigação. Podem falar de mim, do meu papel, da minha participação/moderação/dinamização. Responderei a todos. Vou procurar também acompanhar as vossas reflexões com o meu contributo.

terça-feira, maio 23, 2006

Finlândia, aqui estou eu!

Olá. Beijinhos para todos!

Só para dizer que já vou no terceiro dia de estadia na Finlândia. Apetecia-me dizer muita coisa, mas... Têm sido uns dias de descanso, de partilha, e também de trabalho muito produtivo. Voltarei a isto quando regressar, pois precisam de ouvir algumas coisas para ficarem com o ego mais reconfortado! Digo isto relacionado com o "modelo" da vossa formacão, com a instituicão que vos forma, com a investigacão que estamos a desenvolver, e, sobretudo, enquanto professores que sois!

Por agora queria apenas comentar a grande adesão que o meu "paper" e o simpósio onde estive integrado (Professor Luisa e Professora Maria do C. Roldão) tiveram por terras de Finlândia. Afinal fazemos coisas que são apreciados e reconhecidas por diferentes pessoas desta Aldeia Global. Como elementos integrantes deste processo penso que se devem sentir orgulhosos. Assim, permitam-me que partilhe convosco a minha alegria e o meu bem-estar.

Bem-haja para todos; vocês que participam neste projecto e todos os outros professores que sei estarem connosco.

Nota: Peco desculpa por não ser muito possível manter um contacto permanente connvosco; "fugi" do congresso para escrever estes palavras. Logo que regresse voltarei a "estar presente" com mais frequência.
Os finlandeses são pessoas muito simpáticas e bem organizados. Tampere é uma cidade lindíssima! (Só para fazer um bocadinho de inveja).
Desculpem também a falta de cedilhas, mas este teclado...

Dois sites destas bandas: a cidade e o centro de congressos (para os mais curiosos).
A cidade - http://www.tampere.fi/english/index.html
O centro de congressos - http://www.tampere-talo.fi/english/

sábado, maio 20, 2006

Estratégia para preparar a intervenção Jornadas PP'06

Olá, como estão?

1) Com este texto espero conseguir uma estratégia para organizar a nossa intervenção nas Jornadas de Prática Pedagógica’06, do Ensino Básico. Pretendo agilizar todo o processo de preparação, procurando que a intervenção vá ao encontro de algumas das vossas sugestões. Desde já o meu obrigado pelas vossas contribuições.
Outras opções seriam igualmente válidas, mas com a estratégia que vou apresentar, pretende-se que, para além de um momento de trabalho individual de preparação para a vossa participação, não seja preciso qualquer outra diligência (como reuniões de preparação), a não ser estar presente no dia das Jornadas. A nossa sessão está marcada para o dia 8 de Junho, entre as 14.30 e as 16.30, à qual se segue a Conferência da Professora Maria do Céu Roldão.

2) Linhas orientadoras da intervenção:
• Enquadramento do processo de investigação;
• Apresentação de alguns resultados da investigação;
• Colaboração da Dra. Altina Ramos e Dra. Isabel Candeias;
• Reflexão sobre o processo de construção do conhecimento profissional na formação inicial e no período de indução, segundo linhas orientadoras que apresentarei a seguir;
• Relato de experiências/situações sobre a indução profissional e questionamento da pertinência das respostas/soluções encontradas, ao nível das fontes/recursos utilizados (componentes/áreas da formação inicial, colegas, livros, …).

3) Funções atribuídas aos participantes:
a) Eu farei a apresentação do enquadramento e de alguns resultados da investigação.
b) A Dra. Altina e a Dra. Isabel, a partir do conhecimento dos propósitos da investigação e da leitura do blog, vão procurar interagir com os participantes, ao longo da sessão, colocando questões e suscitando o debate acerca da construção do conhecimento profissional.
c) Os professores principiantes procuram participar no debate acerca da construção do conhecimento profissional: (i)apresentando sínteses acerca dos tópicos solicitados; (ii) relatando experiências profissionais; (iii) respondendo aos desafios da Dra. Altina e Dra. Isabel e às perguntas da assistência.

4) O que precisam de fazer para preparar o vosso contributo na sessão?
A ideia central é que avaliem a vossa construção do conhecimento profissional (processos e experiências formativas desenvolvidas para se tornarem em professores do 1CEB) na formação inicial e no período de indução profissional. Assim, por tópicos, gostaria que, cada professor, se referisse:
a) A três aspectos sobre a formação inicial que contribuíram para a resolução de problemas que tiveram de enfrentar na vossa vida profissional;
b) A três aspectos sobre o período de indução que resultaram na construção de conhecimento profissional, indicando as estratégias que foram seguidas para a construção desse conhecimento
c) A uma/duas experiências/situações profissionais que evidenciassem a importância dessa construção do conhecimento profissional e a(s) relação(ões) com alguns dos aspectos mencionados atrás.

5) Procedimentos a adoptarem:
No final do texto segue uma lista de alguns assuntos tratados durante o processo de investigação. Podem seleccionar os vossos tópicos a partir desta lista. Podem também escolher outros tópicos que não estejam seriados (a lista é apenas exemplificativa…).
Quando decidirem os tópicos/temas a tratar, enviam-me essa lista com as vossas intenções. Logo responderei dizendo se aceito os vossos tópicos ou se sugiro outros, procurando evitar eventuais repetições dentro dos grupos. Depois de seleccionados os temas e de fazerem a vossa reflexão (por tópicos), enviem-me esse esquema de trabalho.
Para os casos que não possam estar presentes nas Jornadas (até agora conheço apenas um caso justificado – Cláudia ou Andreia, conforme a decisão que tomarem), pedia na mesma a concretização deste exercício, pois ou eu ou um colega vosso dará conhecimento das vossas ideias.
Alguma dúvida é só perguntarem. Usem preferencialmente o mail (pode ser também o blog), pois vou estar ausente nos próximos dias.

6) Prazo:
Na medida do possível, seria interessante que tudo pudesse ficar alinhavado até final de Maio.

7) Lista de tópicos:
- Prática pedagógica;
- Projecto Curricular Integrado;
- Didácticas da especialidade;
- Educação Especial;
- Necessidades Educativas Especiais;
- Apoio educativo e dificuldades de aprendizagem;
- Burocracia nas escolas;
- Avaliação das aprendizagens;
- Recursos didácticos;
- Condições materiais das escolas;
- Integração nos contextos escolares por parte dos professores neófitos;
- Relações entre profissionais;
- Metodologia de investigação de problemas;
- Mapas de conteúdo;
- Actividades integradoras;
- O papel dos pais;
- Mobilidade docente;
- Professor tradicional versus professor inovador;
- Diversidade cultural dos alunos;
- Gestão curricular de diferentes níveis de escolaridade;
- O acompanhamento individualizado;
- Adequação das actividades aos alunos;
- Gestão do tempo;
- Aproveitamento da aula por parte dos alunos;
- Gestão diferenciada de diferentes ritmos de aprendizagem;
- Gestão curricular de diferentes níveis de escolaridade;
- Processos de iniciação à leitura e à escrita;
- Monodocência versus monodocência coadjuvada;
- O conhecimento do currículo escolar;
- O conhecimento de diferentes estratégias, metodologias de aprendizagem;
- Problemas sociais dos alunos e famílias;
- …

quinta-feira, maio 11, 2006

Ajuda

Olá a todos!

Este é o meu primeiro post, e é para pedir a vossa ajuda.
Neste momento estou a fazer pesquisas na internet no sentido de encontrar os contactos de uma fábrica de reciclagem, que a minha escola gostaria de visitar, uma vez que se relaciona com o projecto e com as práticas diárias.
Tenho encontrado referências às fábricas, mas está difícil encontrar os contactos. Por isso se algum de vós tiver já realizado alguma visita similar e tiver já os contactos, agradecia que mos enviasse.
Obrigada a todos e bom trabalho!
Tudo de bom!

JoanaLisboa

quarta-feira, maio 10, 2006

Jornadas de PP’06, do 1CEB: como nos podemos organizar e de que vamos falar?

Bem, como já notaram, no âmbito das Jornadas de Prática Pedagógica do 1CEB, estão todos convidados para colaborar numa intervenção em moldes que este post vai tentar ajudar a definir. Para isso preciso da vossa ajuda! Claro que estou a partir do pressuposto que conto com todos para participar nesta aventura. Acho que já disse, é no dia 8 de Junho e é a última tarefa que vos peço! Digo isto porque esta peripécia não estava incluída no plano de trabalhos que em Novembro acordámos de mútuo acordo, pelo que fica aqui o meu apelo à vossa participação.

Apesar de já ter conversado com a Dra. Isabel Candeias, que é quem tem tratado comigo as questões do programa, e de termos discutido algumas hipótese de trabalho, para esta sessão, estou ainda sem saber exactamente como avançar, pelo que queria, antes de mais, colocar-vos perante o duplo repto:
1) Numa primeira instância, gostaria de perceber quais são as vossas sugestões relativas à forma de organizarmos as vossas intervenções. Não digo mais, por agora, para não estar a influenciar as vossas opiniões.
2) Depois, num segundo nível, que não se pode demarcar do anterior, gostaria de saber o que consideram pertinente dizer acerca da vossa participação nesta investigação e, sobretudo, da vossa experiência como professores em pleno período de indução profissional, e que pode ser um contributo importante para quem ainda está na formação inicial ou para quem está prestes a passar para o vosso lado.

Quem sabe se também não se podia discutir formas de manter laços mais sistematizados entre os professores formados pelo IEC, até como uma forma de apoio aos problemas que surgem durante o período de indução profissional, situação já levantada noutros posts/comentários deste blog.
Pensem nisto e digam de vossa justiça. Fico também à espera das vossas opiniões e sugestões, pois rapidamente teremos de tomar decisões.

(In)certezas da indução profissional

Sugestões de temáticas/problemáticas relativas aos desafios da indução profissional no 1CEB, como contributos para o âmbito da intervenção da Professora Doutora Maria do Céu Roldão, nas Jornadas da Prática Pedagógica do Ensino Básico, a realizar no IEC-UM, no dia 8 de Junho, entre as 17 e as 18.00 horas.

Olá a todos!

Acabei no dia 2 de Maio a última entrevista (projecto profissional e pessoal) programada para este projecto de investigação sobre a construção do conhecimento profissional no 1CEB. Já fiz um post sobre a mesma; continuo à espera da vossa participação. Mas, agora o assunto é outro.

O subtítulo deste post é já de si elucidativo. Gostava de vos lançar um desafio, na sequência de algo que já fui adiantando durante o decorrer da terceira e última entrevista. Como tem sido habitual de há uns anos para cá, no final do ano lectivo, e no âmbito da Coordenação da Prática Pedagógica do Ensino Básico, vão-se realizar, mais uma vez, em Junho, as Jornadas da Prática Pedagógica do Ensino Básico.

Num primeiro esboço do programa deste evento está agendada uma sessão dedicada ao período de indução profissional e ao conteúdo deste projecto de investigação, pelo que estão previstas intervenções dos participantes do mesmo (minha e vossa, em moldes que teremos de pormenorizar – vejam o post a seguir), da Dra. Altina Ramos e Dra. Isabel Candeias (para falar da moderação/animação e do conteúdo do Blog), e ainda da Professora Doutora Maria do Céu Roldão.

Ora, é precisamente aqui que queria pedir a vossa colaboração, pois a intervenção da Professora Maria do Céu Roldão está ainda em aberto e é sensível às vossas sugestões de temáticas/problemáticas a serem tratadas relativas aos desafios que a indução profissional suscita aos professores neófitos, na medida daquilo que for considerado pertinente e exequível, bem como, é claro, na medida da vossa disponibilidade para colaborarem nesta postagem. Assim, solicito-vos que correspondam a este desafio o mais rapidamente possível, no sentido de fazermos chegar esta informação em tempo útil à Professora Doutora Maria do Céu Roldão.

Lembrem-se das vossas preocupações e anseios que foram tratados, sobretudo, na 2.ª entrevista, quando falamos do período de indução; lembrem-se de assuntos tratados com os vossos colegas de profissão que estão na mesma situação; lembrem-se das situações que mais vos marcaram (e continuam a marcar!) ao longo desse vosso início de carreira profissional. Questionem os vossos colegas e façam eco das palavras deles neste espaço.

Fico a aguardar com expectativa as vossas ideias/sugestões.

Carlos Silva

sexta-feira, maio 05, 2006

Terceira e última entrevista – o projecto profissional e pessoal

Olá, como estão?

A conversa tem estado entre o calmo e o relaxado, para não dizer ‘desleixado’; é apenas mais uma “provocação”, até porque seria injusto, pelo menos para algumas pessoas que têm dado vida ao blog. Terminei na terça-feira, dia 2 de Maio, a terceira série e última de entrevistas, esta dedicada ao projecto profissional e pessoal, enquanto professores do 1CEB, a atravessarem um período de indução/iniciação profissional.

Falámos de várias coisas:

(1) Começámos por falar de alguns traços de identidade relativos ao perfil profissional do professor do 1CEB, discutindo também as relações do perfil profissional com as funções atribuídas à escola e as exigências da sociedade;

(2) Na sequência, tentámos analisar e reflectir acerca da profissionalidade docente nos professores do 1CEB, onde esteve em causa o saber profissional e o profissionalismo docente (monodocência e a coadjuvação, relacionamento entre pares e institucional, transições de níveis, ...).

(3) Depois focalizámos a atenção nas condições organizacionais/estruturais da actividade profissional (condições materiais e organizacionais, mobilidade docente e concursos dos professores);

(4) Procurámos ainda analisar o estatuto/papel da actividade profissional dos professores do 1CEB no contexto actual da escola e da sociedade moderna (questões de género, reconhecimento social, valorização profissional, escola pública/escola privada, funcionalismo público/profissão liberal);

(5) Reflectimos sobre o papel da construção e desenvolvimento do Projecto Curricular de Turma no projecto profissional do professor do 1CEB;

(6) Finalmente, como súmula da entrevista, tentámos identificar as características que podem definir o perfil profissional que procuram desempenhar (dimensões da intervenção do professor do 1CEB, motivações, relações e incompatibilidades entre o projecto profissional e pessoal).

Sobre estas entrevistas, como nas situações anteriores, devo dizer que fiquei agradado com o ambiente criado, com o nível de empatia, com os diferentes contributos. Verifico que há, regra geral, uma necessidade/vontade de falarem dos vossos casos particulares, que não é traduzida, pela mesma medida, na participação do blog. Por que será? Acho que já falámos sobre isso durante as entrevistas. Se quiserem acrescentar mais alguma coisa, ainda que possa parecer ‘mais do mesmo’…

No final da entrevista, mais uma vez, tentei conduzir a conversa para uma análise da moderação e participação no blog, depois de manter algumas dúvidas acerca do andamento do mesmo. Já sei que muitos de vós não pensam o mesmo, também tenho consciência, como já disse, que há diferenciação no nível de participação, pelo que se torna injusto fazer-se uma análise linear. Acho que também não quero mais manter este ar de permanente insatisfação (diga-se, interpretado por alguns, de elevada exigência). As coisas são como são; neste momento parece-me mais razoável deixar acontecer… ainda que segundo alguns momentos a ponderar.

Pois bem, cá fico à espera das vossas ‘postagens’ e comentários. Cá fico também à espera dos registos escritos para poder reverter algumas das vossas tendências para a discussão aqui no blog.

Para terminar, gostaria de sugerir, para além de outras coisas que queiram dizer, a possibilidade de aproveitarem a postagem para comentar esta última entrevista. E, já agora, aceitem este desafio:
- Numa entrevista que falou de perfil profissional dos professores do 1CEB, como se definem, afinal, como professores. Qual é o vosso ponto forte e qual é o vosso ponto fraco? Aceitam este desafio? Respondam lá!


Nota: Claro está, peguem por onde vos interessar; assuntos, parece não faltarem!

sábado, abril 29, 2006

Continuidade vs. mobilidade docente... alguns factores a ponderar.

Um dos problemas que afecta os professores principiantes no período de indução, até pela sua condição de contratado (mas também, em muitos casos quando já pertencem aos Quadros de Zona Pedagógica), onde o vínculo à entidade empregadora é bastante precário, diz respeito à grande mobilidade docente no mesmo ano lectivo e entre anos escolares. Esta situação faz com os professores não tenham o tempo suficiente na mesma escola, com o mesmo grupo de crianças, para desenvolver um trabalho curricular e pedagógico em continuidade e profundidade.

Abro aqui uma adenda para dizer que o problema da mobilidade docente não é exclusivo dos professores em início de carreira. Como acontecia até ao presente ano lectivo (as recentes alterações nos concursos de professores vão produzir efeitos no próximo ano lectivo – ver post “avaliação”, da Paula Ribeiro), também uma larga percentagem dos professores dos Quadros de Zona Pedagógica e mesmos dos Quadros de Escola, com mais anos de serviço docente, por força da periodicidade anual dos concursos, e das figuras de mobilidade docente que eram permitidas, de um ano para o outro, entravam num processo de colocação que os fazia mudar constantemente de escola. Esta situação merecia um tratamento cuidado, pois há aqui muitas variáveis que seria necessário ponderar e explicar com detalhe, mas para este ‘post’ ficamos por esta ideia de carácter geral.

Aquilo que queria aqui ver reflectido insere-se nas questões relativas ao trabalho curricular e pedagógico que um professor realiza numa escola, contrapondo com as temáticas que cabem nas designações de mobilidade, instabilidade, continuidade docente, que podem influenciar de forma decisiva a qualidade e os resultados desse trabalho.

Assim, por questões de análise destas temáticas, e obstando uma ideia aparentemente consensual de que a continuidade docente é um factor de estabilidade profissional com repercussões na qualidade do trabalho desenvolvido pelo professor, na relação pedagógica estabelecida com o grupo de alunos, no desenvolvimento dos afectos e das relações interpessoais, no conhecimento da comunidade educativa, queria-vos chamar a atenção para outros factores que podem resultar desta análise.

A primeira questão refere-se à tendência para a rotina nos procedimentos do professor que se pode acomodar a uma situação estabilizada e pouco propiciadora de processos de investigação, colaboração, reflexão. Esta situação pode ter também implicações gravosas nas rotinas de sala de aulas, demasiado previsíveis, onde os contextos acabam por ser pouco dados à criatividade, à imaginação, à autonomia, imperando uma certa dependência de gestos, hábitos e condicionamentos.

É um facto que o professor, por muitos cuidados que tenha, acaba por estabelecer relações diferenciadas com os alunos, seja porque lhe merecem mais atenção, porque precisam de mais afecto, porque são extremamente bem educados e afáveis, ou, ao invés, são teimosos, têm dificuldades de aprendizagem, têm comportamentos agressivos ou hiperactivos, provocam ou perturbam os colegas. Também por parte dos alunos é legítimo que se compreenda que possam, por algum motivo, em muitos casos de forma não intencional, criar dificuldades de relacionamento com o professor, não se sintam à vontade com o estilo do professor, não gostem da sua maneira de ser.

Pelo facto do professor estar num contexto que não lhe agrada podemos dizer que a sua motivação não será a melhor, com prováveis repercussões no seu rendimento enquanto professor, apesar do seu carácter profissional, que o deve mover para atitudes congruentes. O professor pode não gostar de alguns colegas, pode considerar não haver condições humanas e materiais para se desenvolver um bom trabalho. Pode ainda estar longe do seu contexto familiar, do seu círculo de amizades, encontrar-se desintegrado do contexto social em que se insere a escola.

O que fazer nestes casos? Como se motiva os professores para uma função tão específica e de elevada importância quando pode haver muitos factores que a podem pôr em causa? A continuidade docente nestes casos parece não ser recomendada… Ou o sentido profissional que deve pautar a intervenção do professor resolve todas estas situações?

domingo, abril 23, 2006

Somos (finalmente) professores do 1CEB!
E agora?

sábado, abril 22, 2006

(Prof)issional....

Boa tarde....
Quase parece um jogo de palavras, mas tem uma intenção...
Trata-se de aproveitar este momento para fazer duas coisas: a primeira trata-se de pedir desculpa a todas as colegas da turma de 2002 e ao professor Carlos, por não ter podido participar na entrevista até ao fim, mas motivos mais pessoais se levantaram. Com certeza foi um momento muito proveitoso e aproveitado, pelo facto de, como sempre, haver momentos de debate, partilha, e reflexão sobre o tema globalizador, digamos assim, "Ser Professor do 1.º Ciclo".
Num segundo momento, gostaria de deixar aqui uma breve reflexão sobre o que se debateu ontem na minha presença, nomeadamente, no que concerne à questão presente no título desta postagem: profissionalidade.

Foram referidas unanimemente, pelos presentes, três dimensões do perfil profissional de um professor do 1.º Ciclo:
- uma dimensão pessoal, ligada à personalidade de cada um, à sua forma de estar no terreno educativo e na vida, articulada com valores fundamentais como a democracia, a colaboração, a partilha, a valorização do outro;
- uma dimensão social, onde cada um é chamado a interagir com os restantes elementos da Comunidade Educativa e outros intervenientes, de uma forma construtiva e crítica, onde é premente a necessidade de ter um espírito de liderança e saber estar, argumentando e defendendo crenças pessoais;
- e uma dimensão pedagógica, a qual, sendo uma dimensão menor, não é a menos importante, antes pelo contrário.

É esta última dimensão que, na minha opinião, focalizamos o nosso olhar, acção e intervenção, na medida em que é o nosso "alvo", e é aqui que, fundamentalmente, somos chamados a ser profissionais, a nível da forma como somos capazes de adequar o currículo nacional às características dos alunos, e dinamizamos actividades integradoras que propiciem a realização de aprendizagens significativas pelos mesmos. Isto só se torna possível se formos capazes de construir Projectos Curriculares de qualidade, definindo princípios, prioridades de acção, actividades, formas e critérios de avaliação, identificar problemas, colocar questões geradoras, e de termos com os alunos e com os nossos pares, uma visão integrada do currículo e do que se pretende da escola, nos tempos actuais.
Cada vez mais se sente a necessidade de integrar conhecimentos de várias áreas - equipas pluridisciplinares - para dar resposta aos problemas que todos sentimos, cada vez faz mais sentido colaborar para construir, cada vez mais se torna premente definir políticas educativas que incentivem a utilização de diversos recursos e materiais...
Dito de outra forma, cada vez mais... vale mais ser... do que parecer...
Sabemos que a realidade não é esta, mas... é caminhando que se faz o caminho...

Bom fim de semana...

terça-feira, abril 18, 2006

“Ser Professor do 1.º Ciclo”, o livro.

Ser Professor do 1.º CicloPor esta altura, se tudo correu bem, todos os participantes deste projecto de investigação receberam um livro intitulado “Ser Professor do 1.º Ciclo: Construindo a Profissão”. Nem de propósito; ou mesmo de propósito. Sim, porque tudo tem uma história, uma marca, uma identidade.

Há várias pessoas que receberam este livro porque, com propriedade, contribuíram para o mesmo. Devem saber (o livro explica isso), no final do ano lectivo de 2004 fez-se as Jornadas da Prática Pedagógica do Ensino Básico, um evento que se tornou familiar, desde há uns anos para cá, que tiveram como lema, precisamente, “Ser Professor do 1.º Ciclo”. Como parecia pouco cordial oferecer a umas pessoas e deixar as outras sem o livro, acabei por enviar um exemplar para todos os participantes nesta investigação (espero que a Professora Luisa me perdoe!), não só pela pertinência e sintonia da temática, mas também como uma forma de incentivo e reconhecimento pela vossa colaboração.

O livro, que agora foi editado, resulta do esforço conjunto das pessoas que participaram nessas Jornadas, e que se propuseram, de diferentes perspectivas (formadores, professores cooperantes, alunos em formação, ex-alunos – professores no activo), discutir, reflectir acerca das questões relacionadas com a construção desta profissão: professor do 1.º Ciclo.

Faço também este postagem também porque o processo que temos vindo a desenvolver desde há algum tempo (pelo menos cinco meses!), está a chegar a uma fase conclusiva, com o aproximar da terceira e última entrevista. Temos, de diferentes formas, questionado e reflectido acerca da construção do conhecimento profissional e da condição do “professor do 1.º ciclo”. Para culminar este processo, pretendo questionar-vos acerca das vossas motivações, dos vossos projectos profissionais e pessoais, agora que estão no campo da acção e intervenção educativa.

Podia fazer uso doutras palavras, mas gosto particularmente daquelas que a Joana utilizou para descrever a transição entre um período de preparação e o momento da tomada de responsabilidades profissionais. É um momento que pressupõe um passado e a construção de um futuro, em constante interacção e evolução.

“Entrar no mundo de trabalho é sempre um choque, porque é a nossa vida a desbravar uma nova etapa. É sem dúvida um passo marcante, uma vez que há um desafio e um teste às nossas capacidades, às nossas escolhas, à nossa competência... É como se tivéssemos de prestar contas dos, pelo menos, 16 anos em que andamos a estudar, que andamos em preparação/construção” (pág. 27).

sexta-feira, abril 14, 2006







Boa Páscoa para todos!

domingo, abril 09, 2006

A Idade do Gelo 2

“A Idade do Gelo 2” (site pt | site internacional) é uma história para todas as crianças, para os adultos que mantêm o espírito de criança, para os professores/educadores que trabalham com crianças (se puderem, vejam primeiro “A Idade do Gelo 1”).

Uma história com tudo. Amor, amizade, alegria, divertimento, uma jornada/caminhada, desafios para vencer, medos para ultrapassar, situações para resolver, sonhos por cumprir, sentimentos por confessar, um mundo em risco, uma vontade enorme em sobreviver, a diversidade e as diferenças entre seres, uma família para cuidar e preservar.

A Rita adorou (já conhecia a primeira saga). Sorriu, gritou, entusiasmou-se, deu gargalhadas, espantou-se, divertiu-se, ficou triste, segredou receios, tapou os olhos, espreitou entre dedos. Comentou, com cara envergonhada e comprometida, mas sem conseguir evitar escapar um sorriso: “Lá vem o amor, outra vez!”.

Eu diverti-me imenso. Fiquei feliz por ver a Rita feliz! Apercebi-me que a felicidade não é um estado. São momentos que podemos procurar, mas nem sempre encontramos, pois acontecem quando menos esperamos. Não sabemos se têm hora e data marcada, mas acontecem… Estejam, pois, alerta! Envolvam todos os sentidos, não os deixem passar.

Já é tarde. Agora a família está toda a dormir, deixei-me estar um pouco mais no sofá... Não queria deixar passar mais um dia sem o post da avaliação (de longe o tinha imaginado, de perto o tentava formalizar). Outras ideias foram surgindo, ao passar de leve as últimas horas da minha existência… Enquanto dividia os olhos entre a televisão e umas folhas de papel, apreendi e rasurei intenções de posts que me tentavam escapar por entre pensamentos e sonos perdidos. Logo a seguir sentei-me no computador, vi o e-mail, respondi a duas ou três pessoas, e depois deu nisto…

Avaliação da aprendizagem e ‘rótulos’

Olá, mais uma vez!

É verdade, uma postagem que queria fazer há algum tempo. Fui adiando de a fazer por perceber que podia ser apenas mais uma para não ser correspondida e isso não queria.

Avaliação, rótulos, dúvidas, sucessos, modos de operar, burocracias, relações com os pais, relatórios, planos de recuperação, retenções, reuniões, …, eu sei lá que mais. Digam vocês!

Agora que acabou a avaliação, porque não a avaliação. Acabaram de a fazer. Está fresca. Digam lá o que vos vai na alma. O que resolveram bem, o que resolveram mal. O que ficou por resolver! Avaliação também porque já vos ouvi dizer ter sido das componentes da formação inicial que mereceria melhor atenção.

Rótulos, sim. Não de garrafas. Antes palavras/actos precipitados, indiciadores de posturas, que, de forma abrupta e seca, marcam crianças antes de terem oportunidades de mostrarem o que sabem e aprendem com os outros. E não sou eu que o digo. Trata-se de uma preocupação que já vos vi exteriorizar, repudiando as implicações que esta forma de ‘atalhar’ pode ter tanto para as crianças, como para a própria condição de professor do 1CEB.

Lembro que as outras postagens/comentários, que vão ficando para trás (apenas na ordem imposta pela barra de deslocação vertical, aí ao lado!) continuam à espera das vossas palavras, se assim quiserem e acharem oportuno. Não queria implorar, mas estou… Se todos lerem e escolherem uma situação para comentar/postar, ficamos com quinze (na melhor das hipóteses) excertos de textos para ler… e depois desses quinze outros virão… ou não.

sábado, abril 01, 2006

Avaliação

Fruto das mudanças que se operam na educação, no próximo ano lectivo, os professores poderão permanecer na escola onde ficaram colocados, caso não seja uma substituição temporária, e o agrupamento assim o entenda.
As questões que se colocam são: que critérios serão utilizados pelo agrupamento para proceder a essa continuidade? Quem deve definir esses critérios?
Será que a avaliação que o agrupamento irá fazer acerca dos professores implicará uma reconstrução profissional e, consequentemente, contribuirá para o sucesso do ensino? Em que medida é que esta mudança nos poderá ajudar no período de indução?
Sem querer tomar partido, gostava de saber as vossas opiniões.

sábado, março 25, 2006

A Rita está melhor!

Olá a todos.

Como podem ver há novidades no blog (novos posts, comentários aos vossos comentários). Procuro dar um forte incentivo para que todos participem com mais frequência e maior intensidade. Assim espero.

Ainda assim, um post para agradecer a TODOS as vossas palavras de amizade e carinho, que me encheram de alegria, a propósito da doença da Rita. Aquilo que me apraz dizer, e é nisto que me quero concentrar, é que a RITA ESTÁ MELHOR! Aqui fica, pela Rita, por mim (também pela mãe da Rita), o nosso sincero obrigado.

Nota: um link para quem quiser saber um pouco sobre aquilo que afectou a Rita. Tratou-se de uma Glomerulonefrite pós-estreptocócica, ou seja uma inflamação dos rins após uma infecção por uma bactéria da estirpe dos streptococcus. Não se assustem com os nomes e nem tudo o que diz aconteceu com a Rita. Provavelmente, segundo diagnóstico médico, foi uma infecção na garganta que acabou por provocar a inflamação dos rins. É algo raro (na proporção de 1 para 10000) mas que pode acontecer...

Práticas inovadoras... ?

A propósito do post anterior, e partindo do princípio, a acreditar no que vêm dizendo neste e noutros momentos desta investigação, que a vossa formação inicial contribuiu para a construção de um perfil de professor inovador (ou não?), como podemos, então caracterizar as vossas práticas profissionais? E como posso verificar isso (a inovação) nas vossas práticas/preocupações quotidianas de professores em período de indução profissional?

Professor tradicional vs. Professor inovador

No seguimento de vários comentários que ficaram para trás neste blog, queria voltar aqui à questão do perfil profissional do Professor do 1.º Ciclo do EB, visto de uma forma muito dicotómica no binómio ‘Professor tradicional’ vs. ‘Professor inovador’.
Para a reflexão desta questão sirvo-me das palavras da Dra. Isabel Candeias, retiradas de uma troca de mensagens de correio electrónico.

“… Continua a fazer falta clarificar o conceito de "ensino tradicional". Na maneira como estão a ser feitas as referências, estão a misturar-se posições conceptuais diversas. No ensino tradicional estão a ser colocados defeitos e qualidades numa sobreposição de concepções. O que está em causa é o papel do professor e do aluno e os sentidos que são dados ao processo de ensinar e ao processo de aprender. Se a intenção primordial do professor é que os alunos aprendam é possível que o professor desenvolva processos tradicionais de ensino? Que processos são esses? E que aprendizagens apoiaram? É uma aprendizagem de conceitos, de factos, de fazeres desligados do todo? Ou é um aprender integrado e útil?
Para que o aluno aprenda de forma integrada e útil, com significado para cada um (para cada um dos alunos) que estratégias de ensino o professor deve considerar prioritárias? Essas estratégias são compatíveis com a visão de ensino tradicional?
É preciso aclarar isto tudo. Senão, podemos estar a falar de coisas diferentes usando as mesmas palavras, e podemos estar a ofender alguns óptimos professores que consideram que muitas das metodologias ditas tradicionais podem ser o centro do seu ensino, tendo, no entanto, a certeza de que os seus alunos desenvolveram o sentido crítico, a cidadania como vivência humana e a procura do saber. Mas também o rigor, a atenção, o respeito. Aqui há contradição?”.

Podem comentar estas palavras da Dra. Isabel Candeias, podem reflectir acerca das várias interrogações que nos são lançadas. Se mais não quiserem, deixo, então, um desafio, como outros que já fiz:
– Identifiquem uma característica para o professor dito de ‘tradicional’ e uma outra característica para o professor dito de ‘inovador’.

domingo, março 19, 2006

Diversidade de Culturas/Religiões


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Neste blog muito se tem falado sobre a gestão da diversidade dentro da sala de aula. E a gestão da multiplicidade cultural? Num qualquer contexto educativo não existe só diversidade em torno das questões curriculares mas, também em torno das emoções, dos sentimentos, dos ideais e das crenças. A diversidade de culturas é um facto cada vez mais comum hoje em dia e constitui uma mais valia para qualquer turma ou escola. A partilha de experiências potencia nas crianças sentimentos e situações de aprendizagem cada vez mais emergentes e determinantes para um indivíduo de uma sociedade global, tolerante e com sentido cívico.

Porém, como reage um professor perante as diversidades culturais, isto é, como é que um professor derruba barreiras de língua ou de crenças dentro de uma sala de aula? Esta pergunta sempre me inquietou, agora mais que nunca! Recentemente, fiquei colocada numa nova escola (vá lá que agora é até ao fim do ano lectivo), numa turma de 1º ano onde me deparei com dois casos que cabem neste post: o H., um menino holandês rotulado como “preguiço” e “pouco inteligente” e o J., um menino cujo pai é Testemunha de Jeová. Perante tal cenário, confesso que fiquei um pouco apreensiva, não tanto pelos casos em si mas pelos ditos “rótulos”. Ao longo da semana fui conhecendo a turma e deu para reparar que o H. era marginalizados pelos colegas por ser tímido e estar pouco à vontade e que o J. não era marginalizado pela sua religião (porque, sinceramente, os meninos ainda são tão pequenos que nem se apercebem) mas sim pelo próprio pai que o impede de participar em actividades (mesmo que seja um simples desenho) que estejam relacionadas com feriados ou destas de carácter católico ou pagão (Natal, Dia de Reis, Carnaval, Dia dos Namorados, Dia do Pai ou da Mãe, Páscoa, etc.).

Quanto ao 1º caso, o do H., tento alterar a situação promovendo actividades de grupo de modo a que ele interaja mais com os restantes. Ao fim deste tempo, já o sinto mais alegre e participativo, o que me deixa muito feliz.
A preocupação permanece com o J. Não consigo fazer o que o pai pede, isto é, excluí-lo das actividades! Sei que devo respeitar as suas crenças mas também não percebo porque não pode o aluno fazer um simples cartão para entregar ao pai no dia 19 de Março. Perguntei ao J. se queria fazer o postal para o pai e rapidamente me respondeu que sim. Os olhitos brilharam e eu assim fiz: deixei-o fazer o postal. Não sei se tomei a melhor decisão… Será que, inconscientemente, estou a tentar impor as minhas crenças e as da maioria das crianças e a não respeitar uma escola, que tal como o Estado, deveria ser laica? Mas, e como se sentirá o J. daqui a uns anos, quando tiver consciente da sociedade que o rodeia? Se desde pequenino não é habituado a lidar e a reconhecer a sua diferença, que tipo de cidadão irá ser? Se ele mesmo não reconhece a diferença pode ser capaz de a aceitar e respeitar?

A postagem já se prolonga mas, penso que se trata de um assunto que toca a todos, não?

Gostaria de saber os vossos pontos de vista.

Bom trabalho!