Ser Professor do 1.º Ciclo

domingo, março 19, 2006

Diversidade de Culturas/Religiões


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Neste blog muito se tem falado sobre a gestão da diversidade dentro da sala de aula. E a gestão da multiplicidade cultural? Num qualquer contexto educativo não existe só diversidade em torno das questões curriculares mas, também em torno das emoções, dos sentimentos, dos ideais e das crenças. A diversidade de culturas é um facto cada vez mais comum hoje em dia e constitui uma mais valia para qualquer turma ou escola. A partilha de experiências potencia nas crianças sentimentos e situações de aprendizagem cada vez mais emergentes e determinantes para um indivíduo de uma sociedade global, tolerante e com sentido cívico.

Porém, como reage um professor perante as diversidades culturais, isto é, como é que um professor derruba barreiras de língua ou de crenças dentro de uma sala de aula? Esta pergunta sempre me inquietou, agora mais que nunca! Recentemente, fiquei colocada numa nova escola (vá lá que agora é até ao fim do ano lectivo), numa turma de 1º ano onde me deparei com dois casos que cabem neste post: o H., um menino holandês rotulado como “preguiço” e “pouco inteligente” e o J., um menino cujo pai é Testemunha de Jeová. Perante tal cenário, confesso que fiquei um pouco apreensiva, não tanto pelos casos em si mas pelos ditos “rótulos”. Ao longo da semana fui conhecendo a turma e deu para reparar que o H. era marginalizados pelos colegas por ser tímido e estar pouco à vontade e que o J. não era marginalizado pela sua religião (porque, sinceramente, os meninos ainda são tão pequenos que nem se apercebem) mas sim pelo próprio pai que o impede de participar em actividades (mesmo que seja um simples desenho) que estejam relacionadas com feriados ou destas de carácter católico ou pagão (Natal, Dia de Reis, Carnaval, Dia dos Namorados, Dia do Pai ou da Mãe, Páscoa, etc.).

Quanto ao 1º caso, o do H., tento alterar a situação promovendo actividades de grupo de modo a que ele interaja mais com os restantes. Ao fim deste tempo, já o sinto mais alegre e participativo, o que me deixa muito feliz.
A preocupação permanece com o J. Não consigo fazer o que o pai pede, isto é, excluí-lo das actividades! Sei que devo respeitar as suas crenças mas também não percebo porque não pode o aluno fazer um simples cartão para entregar ao pai no dia 19 de Março. Perguntei ao J. se queria fazer o postal para o pai e rapidamente me respondeu que sim. Os olhitos brilharam e eu assim fiz: deixei-o fazer o postal. Não sei se tomei a melhor decisão… Será que, inconscientemente, estou a tentar impor as minhas crenças e as da maioria das crianças e a não respeitar uma escola, que tal como o Estado, deveria ser laica? Mas, e como se sentirá o J. daqui a uns anos, quando tiver consciente da sociedade que o rodeia? Se desde pequenino não é habituado a lidar e a reconhecer a sua diferença, que tipo de cidadão irá ser? Se ele mesmo não reconhece a diferença pode ser capaz de a aceitar e respeitar?

A postagem já se prolonga mas, penso que se trata de um assunto que toca a todos, não?

Gostaria de saber os vossos pontos de vista.

Bom trabalho!

4 Comments:

  • Olá. Só para dizer que estou por aqui; li a postagem da Luciana, li os comentários da Paula. É um assunto pertinente na escola de hoje; mais um assunto acometido à escola sem que a escola mude, tenha condições para enfrentar estes desafios.
    Bem, ainda não consegui reunir energias para mais... Obrigado pela vossa atenção. Espero voltar em breve.
    Um abraço amigo. Carlos.

    By Blogger Carlos Silva, at 3/20/2006 12:45 da manhã  

  • Lembrei-me que desta vez não 'discuti' a imagem! Pode ser que fique para a próxima...
    Mas é bom pensar sobre como as crianças vêem os outros...
    - Será que essas ideias têm alguma coisa a ver com as representações que fazemos sobre as diferenças?
    - Será que as nossas interpretações sobre as representações das crianças acerca das diferenças têm pontos de convergência?
    - Até onde as ideias das crianças sobre as diferenças entre pessoas são 'puras' e onde começa a 'contaminação' pelo mundo adulto?

    Uma coisa é certa, tenho a certeza que isto deve ser trabalhado na escola para cuidar da tolerância, da solidariedade, da amizade, dos afectos entre as pessoas, seja qual for a raça, etnia, cor, credo, sexo, condição social, língua, nacionalidade, …, de cada um. O mundo está a precisar disso, urgentemente.

    By Blogger Carlos Silva, at 3/20/2006 1:18 da manhã  

  • Faltou dizer como, o que disse (melhor dito, o que a Luciana questionou e a Paula comentou), está relacionado com a actividade docente, a construção do conhecimento profissional do professor do 1CEB, a atitude profissional. Fica para a próxima, se for capaz...

    By Blogger Carlos Silva, at 3/20/2006 1:24 da manhã  

  • Para tentar dar algumas pistas sobre as questões da diversidade de ritmos de aprendizagem, mas também, porque é o tema desta postagem, da integração cultural na escola, respeitando e tendo em conta as diferenças que nos caracterizam, enquanto pessoas pertencentes a uma comunidade de vida, de afectos, de actividades, de pertenças.

    Do ponto de vista de formação de professores, que é aquilo que pretendo evidenciar, estamos ainda na questão da coerência das práticas de formação (currículo de formação) de acordo com uma realidade caracterizada pela complexidade, incerteza, relatividade, transitoriedade, que pressupõem práticas pedagógicas centradas em competências do aprender a aprender, nos processos de tratamento, pesquisa e análise de informação. Com isto não deixo de advogar a centralidade dos conteúdos na aprendizagem. O que pretendo salientar está relacionado com a significatividade e funcionalidade dos conteúdos na aprendizagem (currículo de aprendizagem).

    Assim, quando falamos num currículo de formação centrado na investigação, reflexão, colaboração, pressupõe a preparação para a diferença, a tolerância, a flexibilidade, a amizade, a solidariedade, características que identificam, em simultâneo (coerência), os agentes educativos e os sujeitos da aprendizagem. Agora, como isto se faz no terreno, onde as dificuldades assumem proporções que inibem os discursos mais lúcidos? Esse foi o desafio que a Luciana lançou; isso também se constrói a partir da partilha de ideias e experiências, para lá das condições que as escolas deveriam ter, para lá da preparação que os professores devem ter (num processo despoletado pela formação, mas que se consubstancia-se ao longo da vida profissional).

    Nota: Ainda bem, Luciana, que a colocação que obteve é até ao fim do ano lectivo!

    By Blogger Carlos Silva, at 3/25/2006 5:12 da tarde  

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