Ser Professor do 1.º Ciclo

sexta-feira, junho 16, 2006

Blog quanto à forma

Como disse no último post, as Jornadas tinham também uma função de duplo feedback relativo a uma análise de conteúdo que fiz a partir do blog. Acabei por apresentar esses resultados preliminares às pessoas presentes nas Jornadas, mas não obtive uma reacção explícita aos mesmos. Assim, aproveito o blog, e na sequência do post anterior, para divulgar, ainda que de forma sucinta, essa análise de conteúdo, esperando obter algumas reacções da vossa parte, se assim desejarem.


1. O blog – Ser Professor do 1.º Ciclo

O blog, como está escrito na sua identificação, foi concebido como um espaço permanente de expressão livre de ideias, sentimentos, críticas, posições, vivências acerca da participação (quanto à forma e ao conteúdo) no processo de investigação.

O blog foi simultaneamente uma ferramenta metodológica e uma estratégia formativa pois permitiu:
(a) A integração do desenho da investigação;
(b) A regulação e supervisão reflexiva do processo;
(c) A construção de um espírito de grupo e de pertença a uma comunidade específica de investigação-acção, unida por laços de identidade, de amizade e partilha de significados.

Tentei fazer uma dupla análise do blog (forma e conteúdo) , ainda que com um carácter exploratório e procurando seleccionar alguns temas-chave emergentes sobre a construção do conhecimento profissional no processo de se tornar num professor do 1CEB (conteúdo, ver próximo post). Este post dedica-se à análise do blog como instrumento de recolha de dados e de regulação da investigação (forma).


2. Blog quanto à forma

A seguir apresento, de forma sucinta, os aspectos que considerei pertinentes relativamente ao blog, como um instrumento utilizado na recolha de dados e na regulação da investigação:

– O blog funcionou como prolongamento e alargamento das discussões suscitadas no seio dos grupos durante as entrevistas.

– Permitiu manter, para alguns professores, um espírito de pertença a um grupo de investigação.

– Ao contrário das entrevistas, onde os professores têm uma necessidade absoluta de falarem sobre as suas experiências profissionais, no blog a participação e os discursos acabam por ser mais filtrados.

– A comunicação assíncrona funcionou como um entrave para manter as discussões vivas e divergentes, devido à elevada exigência do processo intelectual.

– Questionou-se o tipo de intervenção feita no blog, com uma linguagem formal, teórica e, por isso, desajustada para o meio utilizado (que induzia, pelo contrário, discursos mais informais), o que dificultou o relacionamento com o mesmo, levando à sua rejeição.

– A escrita parece ter sido um entrave à participação, desde logo porque exige um esforço intelectual sistematizado.

– Associado à escrita no blog, como factor de inibição, está relacionado o carácter público da opinião (sancionar, imagem a preservar).

– A participação do blog em conflito com a gestão do tempo profissional e pessoal (prioridades).

– O carácter liberal, não compulsivo e assíncrono da participação associado às prioridades levou a que a participação no blog fosse colocada em questão.

Feedback positivo acerca do interesse e do significado dos temas e das reflexões do blog.

– Os professores afirmam acompanhar o blog com frequência, de lerem o blog com interesse.

– O passo seguinte, da participação, pelos motivos apontados tornava-se complicado de dar.

– A participação torna-se reactiva à moderação e dinamização feita pelo investigador responsável.

– A moderação assume um carácter decisivo na dinâmica do blog, na sua manutenção, ainda que, por vezes, só com a função de leitura.

Utilização de outros meios de mobilização, para além das entradas no blog. A acompanhar os ‘posts’, fez-se contactos via SMS, via correio electrónico e, nalguns casos, através do telemóvel. Numa primeira fase, este tipo de moderação e incentivo à participação acabava por ter resultados, situação que se foi diluindo conforme o tempo foi passando.

– A tecnologia envolvida também foi uma questão que acabou por influenciar a participação dos professores. Apesar de haver um controlo dos participantes a partir de uma amostra por conveniência onde havia critérios a cumprir – um dos quais era ter acesso à Internet nos contextos de trabalho e pessoais –, também aqui tivemos alguns problemas.

1 Comments:

  • Uma argumentação à análise dos pontos mais importantes, feita pela Ana:

    – Permitiu manter, para alguns professores, um espírito de pertença a um grupo de investigação…
    Agora que está a acabar, o que pode ser feito para manter esse espírito de pertença, é a questão que foi colocada ao longo da investigação, mas ficou sem resposta conclusiva e receio que acabe por esmorecer.

    – Questionou-se o tipo de intervenção feita no blog, com uma linguagem formal, teórica e, por isso, desajustada para o meio utilizado (que induzia, pelo contrário, discursos mais informais), o que dificultou o relacionamento com o mesmo, levando à sua rejeição.
    Talvez, mas ainda assim recordo-me que na segunda entrevista tentei inverter o sentido das coisas, mas só alguns professores aderiram a essa iniciativa (que dependia muito da vontade dos próprios), o que me faz pensar que a alegada ‘linguagem formal’ foi um pretexto e que as razões da não participação massiva foram outras.

    – A escrita parece ter sido um entrave à participação, desde logo porque exige um esforço intelectual sistematizado.
    Esta sim, parece ser uma das razões mais fortes, embora se perceba que não havia forma de escapar a ela, fosse ou não mais ou menos teórica (também me pareceu um pretexto), o certo é que exigia esforço e dedicação.

    – A participação do blog em conflito com a gestão do tempo profissional e pessoal (prioridades).
    Outra das razões que limitou o número de participações no blog. Aqui reconheço que houve excepções e a Ana foi, sem dúvida, uma dessas pessoas.
    Neste ponto existe uma questão de ética de difícil tratamento que se relaciona com a adesão voluntária ao projecto de investigação e ao assumir de responsabilidades em face desse compromisso. Se houve pessoas que tiveram uma participação menos activa, ainda assim não deixaram de tentar dar o seu testemunho e acabaram por admitir as dificuldades da situação. Contudo, não queria ser muito duro, mas também por uma questão da mais elementar justiça para aqueles que participaram de forma activa, parece que é de reconhecer ter havido pessoas que estiveram ausentes.

    – Os professores afirmam acompanhar o blog com frequência, de lerem o blog com interesse. – O passo seguinte, da participação, pelos motivos apontados tornava-se complicado de dar.
    Esta era uma das dimensões que interessava ao blog: ligar as pessoas pela leitura, fazendo-os sentir que pertenciam a uma comunidade de conhecimento. O reconhecimento da leitura dos posts e dos comentários foi uma das tarefas que se propôs, mas nem isso foi respeitado. De qualquer forma, acho que ainda assim se obteve excelentes resultados, em conjugação com os outros elementos de recolha de dados (entrevistas e registos escritos), pois é assim que deve ser visto o blog.

    Obrigado pelo esforço de análise, Ana. Para além do seu valor intrínseco, impele-me também a (re)pensar a minha própria análise.

    By Blogger Carlos Silva, at 7/25/2006 1:09 da tarde  

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