Ser Professor do 1.º Ciclo

quarta-feira, junho 21, 2006

Ainda a Finlândia… notas soltas.

Olá a todos.

Há muito matéria para comentar no blog. Ainda assim, numa perspectiva de economia de esforço, sem coarctar a iniciativa e a vontade individual, preferia que concentrassem os comentários no post “O processo de investigação em análise...”.

Mais uma vez volto ao vosso contacto, aos meus fiéis leitores, que neste momento não devem ser muitos, para recuperar um post anterior e cumprir uma promessa: voltar a escrever sobre a viagem à Finlândia, agora que voltei já lá vão três semanas. A distância temporal pode fazer esquecer pormenores mas faz sobressair aquilo que valorizamos mais. Assim, em jeito de notas soltas, aqui vão alguns comentários sobre a viagem, sobre a conferência e sobre as escolas:

Na sua globalidade a conferência internacional acabou por ser um momento de convívio, depois de previamente se ter feito um esforço de sistematização e síntese de alguns dados relativos à investigação em causa. Nessa medida resultou plenamente, para além da necessidade de cuidar do inglês, pois é nas alturas que damos conta da sua importância. Também é nestas circunstâncias que percebemos que a aprendizagem em contexto faz todo o sentido.

A conferência também resultou num espaço de diálogo interculturas, de tomada de consciência da dimensão do global, muitas vezes em harmonia, outras vezes em dissonância, com a dimensão do local. Não raras vezes dei por mim, em processos demasiado dicotómicos e simplistas, a estabelecer pontos de comparação entre coisas que não sei se são possíveis de estabelecer analogias. Certo é que essa tendência, pouco racionalizada, resultou quase sempre em prejuízo do contexto português…

Serviu também para estabelecer alguns contactos internacionais. Relações que podem, numa ou noutra circunstância, ser rentabilizadas em benefício da nossa experiência profissional e pessoal.

O simpósio em que participei é fruto de uma parceria entre o IEC e a ESE de Santarém. Tratam-se de duas instituições de formação que comungam e partilham modelos e experiências de formação com perspectivas construtivistas, que têm como estratégias fundamentais a prática reflexiva e a construção de Projectos Curriculares Integrados. Este evento acabou por funcionar como uma forma de sistematização e consolidação deste projecto de formação, onde estão a decorrer duas investigações sobre a construção do conhecimento profissional.

Já o tinha dito, agradou-me particularmente a receptividade e o reconhecimento do simpósio e dos estudos apresentados. Modéstia à parte, foi dos simpósios mais concorridos, com uma estrutura de apresentação coerente e com o conteúdo devidamente articulado. Isto mesmo foi devidamente reconhecido pelos diferentes participantes, das mais diversas partes do mundo (Macau, Turquia, Espanha, Finlândia, Portugal, …), que nos dirigiram palavras de incentivo e de parabéns pelo trabalho realizado.

Admirei também as condições do Centro de Congressos onde decorreu este evento. Uma estrutura independente, de iniciativa privada, com condições excelentes, onde há espaço e requisitos para as mais diversas manifestações humanas (convívios, exposições, workshops, conferências, teatro, ópera, …).

Não tive oportunidade de visitar escolas do ‘1.º Ciclo’ (‘comprehensive school, lower stage’, 1.º ao 5.º ano de escolaridade – 7 aos 12 anos). Ainda assim acabei por visitar uma escola do ‘2.º Ciclo’ (‘comprehensive school, upper stage or junior secondary’ – 6.º ao 9.º ano de escolaridade), ligada aos processos de formação de professores da Universidade de Tampere. Uma escola estatal por comparação com outras escolas de responsabilidade municipal. Pelo que entendi, apenas muda as fontes de financiamento, pois o seu funcionamento é basicamente o mesmo.

A escola ‘básica’ finlandesa oferece um programa de 9 anos de escolaridade obrigatória, ao qual se acrescenta um 10.º ano de frequência voluntária. Antes dos 9 anos de escolaridade existe um ano de ‘educação pré-escolar’ (6/7 anos), de frequência generalizada, garantido nas escolas do ‘1.º ciclo’ ou por ‘jardins-de-infância’. Estes ‘centros de educação pré-escolar’ estão habilitados a receber crianças desde o primeiro ano de vida.

Depois de completarem a educação obrigatória os estudantes podem seguir para a ‘escola secundária’ (‘upper secondary school’), que garante três anos de educação generalista (10.º ao 12.º ano de escolaridade). Podem ainda seguir a via da educação vocacional que pode demorar a completar entre 2 a 6 anos. Um em dois finlandeses completa o nível da ‘escola secundária’ e 23% possui um grau de qualificação superior.

Uma nota sobre as condições materiais das escolas. Presumo que nos quiseram mostrar algo que pudesse deixar uma boa impressão. Faria de igual modo se fosse incumbido da mesma tarefa em Portugal. Ainda assim, por comparação (cá está a tendência), fiquei impressionado com excelente nível de qualidade e com a diversidade dos equipamentos das escolas. Desde os espaços comuns, às salas, aos gabinetes para os professores, até à biblioteca, à cantina, ao bengaleiro, aos materiais para as expressões artísticas, tudo parecia estar pensado em função dos alunos. A mesma impressão trespassou nos comentários de colegas que tiveram a oportunidade de realizar a visita a uma escola do ‘1.º Ciclo’.

Faltou perceber como está organizado, que actividades desenvolvem, que conteúdos trabalham no pré-escolar (por exemplo, como trabalham as questões da iniciação à leitura e escrita). Contudo, registei o facto de as crianças na Finlândia iniciarem o seu percurso ‘escolar’ obrigatório apenas aos 7 anos. Pelo que pude apurar, para começarem a escola mais cedo têm que indiciarem um processo que, em última instância, é decidido pelas autoridades educativas.

Na escola que visitei tive oportunidade de acompanhar grupos temáticos mais pequenos. Esses grupos, formados por interesses específicos, foram acompanhados por professores especializados no âmbito desses interesses. Acabei por escolher, por influência da Professora Luísa, a educação especial, embora também fiquei curioso pela parte das TIC. A senhora com quem falámos era assistente social com formação em Psicologia. Coordena uma equipa multidisciplinar, constituída por professores. A ideia com que fiquei é que há uma verdadeira preocupação de integração na escola, não só pelos aspectos relacionados com as dificuldades de aprendizagem das crianças, mas numa perspectiva mais abrangente, onde se inclui os afectos, os interesses, os conflitos. Verifiquei um acompanhamento permanente e um conhecimento detalhado de todos os alunos da escola, procurando ter intervenções precoces com carácter preventivo ou possam minimizar danos.
Ainda assim, já numa parte mais avançada da conversa, deu para perceber que a sociedade finlandesa debate-se actualmente com alguns problemas sociais, cuja dimensão não sei explicitar, mas que foram apresentadas como verdadeiras preocupações ao nível da população estudantil, e que mereceriam uma outra reflexão. Aqui ficam as referências que me chamaram a atenção: o alcoolismo, o suicídio, as famílias desestruturadas, os conflitos nas interacções sociais (sobretudo entre raparigas), o bulling (mais entre os rapazes).

Impressionou-me as salas de expressão e educação plástica. As salas mais pareciam ateliers de pintura, escultura. Bancas cheias de materiais, salas e corredores decorados com autênticas obras de arte produzidas pelos alunos. Tudo num ambiente muito informal, mas ao mesmo tempo muito profissional.

Além do gabinete de Educação Especial, também pude averiguar que há uma enfermeira a tempo inteiro na escola e visitas semanais de um médico, que observa alunos por sugestão da enfermeira e da equipa de educação especial e pode encaminhá-los, caso se torne necessário, para outros serviços especializados fora do âmbito da escola.

Os professores da Finlândia também discutem a autonomia da escola, a gestão curricular que possa permitir o equilíbrio entre as especificidades locais, os interesses divergentes e a identidade nacional, os conhecimentos estruturantes. Depois de uma experiência marcada pela acentuada autonomia da escola na decisão curricular, com dinâmicas locais muito activas e com o envolvimento dos professores, actualmente vive-se o surgimento de alguns mecanismos e políticas que acentuam o controlo estatal, que pretendem uniformizar procedimentos e conhecimentos, muito influenciados pela demanda neo-liberalista que induz uma forte pressão sobre os resultados e preconiza os rankings das escolas.

Também tem estado em causa o estatuto social e remuneratório dos professores. Parece que, segundo negociações que estão ainda a decorrer, se caminha para uma relação mais estreita e personalizada entre professor e estado ou entidade patronal, onde parece haver margem de manobra negocial, diferenciando os professores por factores de mérito, experiência profissional e outros que não sei concretizar. Não me perguntem como fazem, mas seria interessante perceber um pouco melhor estas ideias e a concretização das mesmas. Ainda assim, não se deve incorrer em analogias directas e precipitadas, pois tornava-se necessário perceber as condições do contexto finlandês.

segunda-feira, junho 19, 2006

Blog quanto ao conteúdo

Na continuação do post anterior, apresento de seguida os resultados preliminares da análise de conteúdo feito a partir do blog. Trata-se de uma selecção (longe de ser exaustiva) de alguns temas-chave emergentes sobre a construção do conhecimento profissional no processo de se tornar num professor do 1CEB, que a leitura do blog acabou por fazer emergir. Tento, assim, dar visibilidade a alguns aspectos que me parecem ser mais recorrentes nas vossas intervenções.

Estamos perante uma riqueza e uma densidade enorme de situações relacionadas com a construção do conhecimento profissional. Isto pode ser justificado um pouco pelo facto de reverterem as reflexões das entrevistas e dos registos individuais para o blog, tornando visíveis os aspectos mais significativos acerca do processo de construção do conhecimento profissional.

Os resultados conseguidos no blog são, sobretudo, fruto de uma postura reactiva à moderação e dinamização do mesmo. Os dados das entrevistas e dos registos escritos devem ser combinados com os dados do blog para validar o processo de análise de conteúdo.


3. Blog quanto ao conteúdo

1) Os professores neófitos referem com insistência o interesse e a vantagem de participarem em processos de investigação inovadores para o seu desenvolvimento pessoal e profissional.

Alguns dos aspectos mais citados pelos professores são a participação na investigação como uma ajuda para a reflexão, a continuidade dos processos de formação, os ganhos ao nível do enriquecimento profissional e pessoal, a vontade de trabalhar em comum, a participação numa experiência inovadora e pioneira, a possibilidade de aprender com as experiências dos colegas, de reflectir e partilhar experiências concretas.


2) Os professores neófitos apreciam a formação inicial de forma muito positiva, referindo-se a um nível superior de qualidade em relação a outros contextos de formação.

Estabelecem uma forte correlação entre as aprendizagens da formação inicial e as orientações que assumem na actividade profissional. Acreditam que nenhuma formação inicial os pode preparar para tudo, assim como acreditam que lhes proporcionou instrumentos e competências para enfrentar os diferentes contextos escolares com sucesso.


3) A profissão docente no 1CEB como uma actividade profissional intensa, a tempo inteiro, desgastante e absorvente.

É uma actividade que não pode ser assumida como um emprego, pois não é possível desligar e deixar de pensar na escola, nas crianças. Algo lhes diz que existe um desígnio maior, um dever profissional, que orienta e move a actividade profissional, apesar das dificuldades e dos contextos nem sempre serem os mais favoráveis. Para lá do momento da intervenção e da interacção com as crianças, existem um sem número de situações que é preciso cuidar. Assim, ser professor do 1CEB é uma forma de vida, uma forma de estar, muitas vezes com prejuízo da vida pessoal.


4) A formação inicial iniciou um processo de construção de um perfil profissional baseado na investigação, reflexão e colaboração, conceitos centrais dos processos de formação desenvolvidos pelo IEC, da UM.

Trata-se de uma marca que os distingue como profissionais e que não encontram noutros contextos de formação. É um perfil profissional que precisa de ser alimentado e está em constante questionamento, pelo que se trata de um processo de aprendizagem e construção ao longo da vida.


5) A importância da construção de Projectos Curriculares Integrados na formação inicial e no período de indução, simultaneamente como instrumento fundamental para a mediação dos processos de aprendizagem das crianças e para a gestão flexível do trabalho curricular dos professores.

Salienta-se ainda a flexibilidade dos pressupostos da construção do Projecto Curricular, em função dos contextos escolares, da comunidade docente, das crianças que temos na sala de aula. Relacionado com o desenvolvimento do Projecto Curricular Integrado, encontra-se um conjunto de outras situações que definem a intervenção pedagógica e curricular com a qual os professores principiantes se identificam e dizem constituir a sua matriz de trabalho, nomeadamente a metodologia de projecto, a articulação curricular, o aprender a aprender, o desenvolvimento de competências.


6) Há uma preocupação evidente pelos aspectos didácticos, pois consideram esta dimensão menos conseguida na sua formação e susceptível de provocar dúvidas e insegurança, até pelo facto de serem professores principiantes.

Há preocupações específicas ao nível da leitura e da escrita da língua materna. Apesar da consciência de algumas lacunas na formação inicial ao nível das didácticas, há, ainda assim, uma percepção de um trabalho bem conduzido e que não é possível especificar todos os aspectos que serão objecto de preocupação na actividade profissional. Assim, fica também a noção bem vincada, em consonância com o perfil profissional do professor, da necessidade/vontade de aprender com a experiência e com a formação contínua.


7) O período de indução profissional é apreciado pelos professores neófitos como um momento onde não há qualquer apoio institucional, onde a insegurança acaba por tomar um espaço importante nas suas preocupações.

Muitas vezes vêem-se na necessidade de lidar com conflitos decorrentes de um certo confronto com os colegas mais velhos, que consideram as suas práticas demasiado complexas, esforçadas, como quem pretende mudar o mundo. Torna-se necessário realizar um salto emocional e relacional para enfrentar os contextos profissionais, em grande parte dos casos sem qualquer ajuda, o que faz retrair as iniciativas mais voluntaristas. Mas também aceitam como um desafio as dificuldades que encontram nos contextos profissionais, demonstrando confiança na formação inicial que obtiveram.


8) Os aspectos burocráticos imperam na gestão de muitas escolas e desviam os professores sua verdadeira função: ensinar e inovar as práticas.

O tempo é sentido como um bem muito escasso, devido à intensificação da actividade curricular e de todas as solicitações que daí decorrem: as crianças, os pais, as dificuldades de aprendizagem, os ritmos diferenciados, a articulação curricular. As reuniões de professores, pelos mais diversos motivos, o preenchimento de papéis, os relatórios para fazer, acabam por ser situações que fazem esgotar a paciência, já de si nos limites com a intensificação do trabalho. A dita burocracia torna visível a sensação de que se está a trabalhar de uma forma pouco produtiva e, sobretudo, sem grande repercussão para aquilo que mais valorizam e gostariam de estará a fazer, que diz respeito ao trabalho curricular e pedagógico. A sensação generalizada é a de perda de tempo com consequente perda de vontade de apostar em práticas inovadoras.

sexta-feira, junho 16, 2006

Blog quanto à forma

Como disse no último post, as Jornadas tinham também uma função de duplo feedback relativo a uma análise de conteúdo que fiz a partir do blog. Acabei por apresentar esses resultados preliminares às pessoas presentes nas Jornadas, mas não obtive uma reacção explícita aos mesmos. Assim, aproveito o blog, e na sequência do post anterior, para divulgar, ainda que de forma sucinta, essa análise de conteúdo, esperando obter algumas reacções da vossa parte, se assim desejarem.


1. O blog – Ser Professor do 1.º Ciclo

O blog, como está escrito na sua identificação, foi concebido como um espaço permanente de expressão livre de ideias, sentimentos, críticas, posições, vivências acerca da participação (quanto à forma e ao conteúdo) no processo de investigação.

O blog foi simultaneamente uma ferramenta metodológica e uma estratégia formativa pois permitiu:
(a) A integração do desenho da investigação;
(b) A regulação e supervisão reflexiva do processo;
(c) A construção de um espírito de grupo e de pertença a uma comunidade específica de investigação-acção, unida por laços de identidade, de amizade e partilha de significados.

Tentei fazer uma dupla análise do blog (forma e conteúdo) , ainda que com um carácter exploratório e procurando seleccionar alguns temas-chave emergentes sobre a construção do conhecimento profissional no processo de se tornar num professor do 1CEB (conteúdo, ver próximo post). Este post dedica-se à análise do blog como instrumento de recolha de dados e de regulação da investigação (forma).


2. Blog quanto à forma

A seguir apresento, de forma sucinta, os aspectos que considerei pertinentes relativamente ao blog, como um instrumento utilizado na recolha de dados e na regulação da investigação:

– O blog funcionou como prolongamento e alargamento das discussões suscitadas no seio dos grupos durante as entrevistas.

– Permitiu manter, para alguns professores, um espírito de pertença a um grupo de investigação.

– Ao contrário das entrevistas, onde os professores têm uma necessidade absoluta de falarem sobre as suas experiências profissionais, no blog a participação e os discursos acabam por ser mais filtrados.

– A comunicação assíncrona funcionou como um entrave para manter as discussões vivas e divergentes, devido à elevada exigência do processo intelectual.

– Questionou-se o tipo de intervenção feita no blog, com uma linguagem formal, teórica e, por isso, desajustada para o meio utilizado (que induzia, pelo contrário, discursos mais informais), o que dificultou o relacionamento com o mesmo, levando à sua rejeição.

– A escrita parece ter sido um entrave à participação, desde logo porque exige um esforço intelectual sistematizado.

– Associado à escrita no blog, como factor de inibição, está relacionado o carácter público da opinião (sancionar, imagem a preservar).

– A participação do blog em conflito com a gestão do tempo profissional e pessoal (prioridades).

– O carácter liberal, não compulsivo e assíncrono da participação associado às prioridades levou a que a participação no blog fosse colocada em questão.

Feedback positivo acerca do interesse e do significado dos temas e das reflexões do blog.

– Os professores afirmam acompanhar o blog com frequência, de lerem o blog com interesse.

– O passo seguinte, da participação, pelos motivos apontados tornava-se complicado de dar.

– A participação torna-se reactiva à moderação e dinamização feita pelo investigador responsável.

– A moderação assume um carácter decisivo na dinâmica do blog, na sua manutenção, ainda que, por vezes, só com a função de leitura.

Utilização de outros meios de mobilização, para além das entradas no blog. A acompanhar os ‘posts’, fez-se contactos via SMS, via correio electrónico e, nalguns casos, através do telemóvel. Numa primeira fase, este tipo de moderação e incentivo à participação acabava por ter resultados, situação que se foi diluindo conforme o tempo foi passando.

– A tecnologia envolvida também foi uma questão que acabou por influenciar a participação dos professores. Apesar de haver um controlo dos participantes a partir de uma amostra por conveniência onde havia critérios a cumprir – um dos quais era ter acesso à Internet nos contextos de trabalho e pessoais –, também aqui tivemos alguns problemas.

quarta-feira, junho 14, 2006

As Jornadas de PP’06 – Partilha de experiências.

Viva, como estão todos, neste final de ano lectivo, presumo muito atarefado, que rapidamente se aproxima do seu desfecho?

Um olá muito especial para as Professoras presentes nas Jornadas de PP, a saber: a Elisabete, a Olga, a Beatriz, a Ana, a Luciana e a Paula. Também um olá muito especial para Elisabete Abreu, que nos deu o prazer da sua companhia nestas Jornadas, e para a Carla Leite que, horas mais tarde, se juntou ao nosso convívio.

Por onde começar este post sobre o painel “Ser Professor do 1.º Ciclo: construção do conhecimento profissional”, realizado no âmbito das Jornadas de PP’06?

Talvez, antes de mais, dizer que não sei ainda ao certo o que escrever. Melhor dito, não sei muito bem como dizer certas coisas que me têm perpassado pela cabeça, a propósito da concretização do painel, e que persistem de uma forma recorrente desde essa altura. Não sei muito bem como dizê-las porque, até agora, apesar de um esforço de verbalização e contrastação das mesmas, contínuo por não tê-las devidamente resolvidas, pelo que neste momento não sei ainda qual vai ser o resultado do texto que agora tento dar forma. Trata-se, pois, de um duplo exercício, que tenta fazer a interpretação dos sentimentos que as Jornadas acabaram por despoletar e das situações que os desencadearam. A ver vamos se serei capaz.

Para me sentir orientado neste trabalho de análise sobre o painel e sobre as minhas reacções ao mesmo, começo por tentar estruturar uma lista de assuntos a tratar, à volta dos quais queria explanar alguns dos raciocínios que ocupam os meus pensamentos: o silêncio, os agradecimentos, a apresentação da investigação, a vossa participação, a participação dos alunos do IEC, a análise de conteúdo a partir do blog (forma e conteúdo), a conferência da Professora Maria do Céu Roldão.


1) O silêncio.

Vivo estes dias, é já lá vão alguns dias desde a realização do painel, com a nítida percepção que tenho um nó por deslindar, que acaba por ser a ponta de um novelo mais amplo e complexo. Por outro lado, tenho também, neste momento, a sensação de incapacidade para o desfazer, pelo que o risco que corro agora é sempre de torná-lo ainda mais apertado e embrenhado. Contudo, percebo que o silêncio que criei, quase como um refúgio, também não ajuda ao esclarecimento.

Além do mais este espaço não se compadece de silêncios, pois apenas contribuem para a sua ausência e consequente negação da sua existência. Percebo ainda que, de forma legítima, haja quem esteja à espera de uma reacção. Por tudo isto, não posso mais escudar-me na gestão dos silêncios. E, na lógica da exposição pública do blog, nada melhor do que o blog para agitar as águas.


2) Os Agradecimentos.

Um discurso que faz sentido neste espaço, porque é sentido, diz respeito aos agradecimentos. E não se pense que é uma linguagem fácil de palavras previamente feitas. De facto, às Professoras presentes, queria deixar o meu obrigado pelo esforço, pela consideração, pela atenção. Sei que a vossa presença acaba por traduzir uma vontade que foi capaz de diluir obstáculos e que representa uma forte consideração pelo trabalho de investigação. Acredito também que esse é o sentimento das pessoas que lamentaram, pelos argumentos apresentados, não poder estar presentes.

Por isso, não queria deixar de dizer que a vossa presença foi sentida como uma tradução de compromissos anteriores, sem querer esquecer outras pessoas que também contribuíram de forma valiosa para a investigação, e que por um ou outro motivo válido, não puderam estar presentes. Não esqueço também o facto deste evento não estar inicialmente previsto no plano de trabalhos que estabelecemos num protocolo de colaboração/investigação que fiz com cada um de vocês.


3) A apresentação da investigação.

Eu tinha já apresentado, em diferentes contextos, versões desta mesma comunicação que fiz nas Jornadas. Na Finlândia tive pela primeira vez a oportunidade de dar a conhecer a investigação tal e qual está a decorrer. Por isso, tendo em atenção o contexto e o púbico, e ainda o facto de já estar familiarizado com o conteúdo da mesma, achei que havia razões para estar confiante em relação à sua aceitação. Pensei mesmo que esta era a “comunicação”, pois podia-lhe dedicar um pouco mais de tempo, detalhando alguns pormenores que não fiz em ocasiões anteriores. Também pensei que a apresentação de alguns resultados preliminares aos professores participantes na investigação, na fase em que estamos, seria visto como uma oportunidade única de reflexão e análise acerca dos mesmos, para além do cumprimento de um dever ético e moral decorrente de princípios de transparência e de rigor da investigação.

Depois, um estudo desta natureza, relacionado com a indução e a construção do conhecimento profissional, julgo eu, reunia todos os ingredientes para chamar a atenção dos alunos do IEC. Se juntarmos a isto tudo, a possibilidade de ouvir, de viva voz, experiências profissionais de ex-alunos formados pelo IEC, e de interpelá-los e confrontá-los com as suas preocupações, parecia-me estar criado um cenário de excelência em termos formativos.


4) A vossa participação.

O princípio da ‘partilha de experiências’, com o qual se proclamava as Jornadas deste ano, parece não ter sido devidamente cumprido no painel em que participaram. Parece ser, à partida, um juízo demasiado forte e, eventualmente, injusto, mas foi essa a percepção que construí. Este foi dos aspectos que mais mágoa me deixou, para além da baixa participação dos alunos do IEC, que tratarei no ponto seguinte. Ao dizer isto não lhes estou a atribuir qualquer responsabilidade directa. Parece ter havido um conjunto de factores que resultaram numa inibição pouco comum para as pessoas em questão, até pelo conhecimento e experiência que tenho da vossa forma de ser e estar na vida.

Gostava de perceber, e deixo-vos aqui o repto, por que é que não funcionou? Quais foram, no vosso entendimento, as razões que induziram este resultado? Desde já deixo aqui as minhas deduções, ainda que levadas a um extremo da análise.

a) Roubei-vos protagonismo. A razão de ser deste painel deveria ser a ‘partilha de experiências’. A partir das mesmas seria possível perceber o que é ser professor do 1CEB e como fazem a construção do conhecimento profissional, numa transição fundamental que é a passagem da formação inicial para o período de indução.

b) Relacionada com a questão do protagonismo, entronca a preparação do painel que me parece agora não ter sido a mais feliz. Talvez fosse de exigir algo de mais explícito aos grupos de investigação, promovendo a sua apresentação formal, através de um porta-voz.

c) A minha intervenção parece também ter retirado eficácia aos possíveis contributos da Dra. Altina e da Dra. Isabel. De qualquer modo, a ideia seria desafiar a audiência e o grupo de Professores que fez parte da investigação, mas em ambos os casos, por razões diversas, pareciam, logo à partida, estarem desmobilizados.

d) A minha moderação foi pouco incisiva. Julgava eu que os ingredientes do painel eram suficientemente interessantes para termos, quase como por geração espontânea, um momento vivo e rico de ‘partilha de experiências’. O meu pensamento prévio estava mais na hipótese de como ter que cortar e controlar a participação. Em face de uma palidez geral, fiz várias tentativas para ‘despertar’ e provocar a participação da audiência e das Professoras neófitas, mas sempre com resultados muito parcos.

e) A distribuição das pessoas no auditório, nomeadamente a vossa, não foi a mais favorável. Não sei porquê, mas sempre resistiram a assumir protagonismo e a passar para o ‘palco’ das atenções, enfrentando ‘de frente’ a audiência. A própria distribuição da audiência, muito dispersa, afastada das Professoras neófitas e em reduzido número, também foram factores que ‘congelaram’ o debate e tornaram a interacção pouco desafiante.


5) A participação dos alunos do IEC.

Como disse, considerava à partida o acesso a este tipo de eventos, pela dimensão formativa que envolve, um privilégio para os alunos do IEC. Digo mais, se não for por eles, julgo que se pode por em causa a existência destas realizações. É por reconhecer a importância decisiva destas manifestações no seu percurso formativo que acredito ser necessário repensar o envolvimento dos alunos.

Tudo isto para dizer que fiquei desiludido com a reduzida participação dos alunos do IEC. Bem sei das atenuantes que se pode apresentar: aulas a decorrer, trabalhos para fazer, exames para preparar, …, um sem número de tarefas para cumprir. Nada que não tivesse ouvido de outros anos. Ainda assim, parece caber uma palavra de orientação e selecção acerca das experiências formativas que lhes são proporcionadas.

Dito isto, parece-me que seria necessário entrar noutro nível de análise que não me sinto habilitado a fazer, mas que o IEC urge concretizar, até como um ponto de ordem para a reformulação do percurso formativo (com ou sem Bolonha) e das prioridades que aí se definirem.

Ainda assim, uma ressalva para quem esteve presente, pois não é deles que este ponto se ocupa.


6) Análise de conteúdo a partir do blog (forma e conteúdo).

Já o disse, o painel jogava para mim uma função importante: poder dar feedback de alguns resultados preliminares aos Professores participantes da investigação. Para além do valor ético e moral da retribuição pela participação com a comunicação de alguns resultados, ainda que apenas a partir de uma ferramenta de recolha de dados (o blog), tornava-se importante um outro feedback que me interessava para a investigação: a reacção dos Professores aos primeiros resultados da investigação. Ora isso acabou por não acontecer nos termos em que desejava, a não ser em conversas de circunstância, já depois do decorrer do painel. Assim, reservo para próximos posts a possibilidade de divulgação, ainda que de forma sintética, desses resultados, esperando daí obter algumas reacções da vossa parte, se assim desejarem manifestar-se.


7) A conferência da Professora Maria do Céu Roldão – a propósito do blog.

Foi para mim um oásis dentro de uma experiência, como deu para perceber, mal digerida. Na sequência de outras conferências proferidas pela Professora Maria do Céu Roldão, às quais tenho assistido, mesmo no contexto das Jornadas da PP, é sempre para mim um prazer enorme ter a oportunidade de voltar a ouvi-la. Ainda assim esta foi especial, pois estava em causa uma leitura atenta do blog, como pretexto para uma conversa sobre a indução profissional.

Tenho de o admitir, acabei por sentir um misto de sentimentos algo contraditórios (não necessariamente opostos e nefastos): desde uma alegria enorme e uma certa vaidade ou orgulho no trabalho realizado, até uma grande surpresa/espanto pela abordagem ‘diferente’ do blog (talvez, melhor dito, da indução profissional), de todo inesperada, que me fez sentir um aprendiz com vontade de crescer, mas com muito por aprender e, sobretudo, viver!

Falta o discurso e isso é o essencial, mas, de qualquer maneira, aqui ficam os tópicos que podem indiciar o que perderam… para quem esteve ausente:

– Formadores orgulhosos – porquê?
– As dimensões do profissional – o que está afinal no centro?
– O professor mediador – entre quê e quê?
– Angústia para o jantar…
– Ter direito à vida pessoal ou… entrar na via mística?
– A que damos mais importância? … Ou dos riscos da deriva afectiva…
– Avaliar – um problema?!... Mas porquê?
– “Ajudar” os alunos… como é que se entende?
– Diferenciação – mas como?
– E os pais?
– Os rótulos – os deles e os nossos…
– Os grupos e os apoios mútuos – quem pode começar?... E continuar?

Entretanto, seguem-se os meus comentários… à “lista pós-leitura de blog”, que fiz questão de proferir logo após a intervenção da Professora Maria do Céu, e que aqui reproduzo:

a) Não sabia que o blog podia dar tanto! … Mas sei que o blog deu para tanto, não porque o blog tem tanto para dar, mas antes por causa do ‘olhar’ da Professora Maria do Céu sobre o blog…

b) Depois de ouvir a conferência, fiquei com a necessidade absoluta de fazer um acto de contrição como professor, investigador, mas sobretudo como pessoa que tem família, amigos, pais… e ainda bem (é sempre bom ter alguém que nos relembre das coisas fundamentais da vida). Espero continuar o meu trabalho, embora muitas vezes duvide e questione a minha capacidade; mantenho, ainda assim, a esperança que esta ‘angústia’ que me acompanha seja da ‘boa’ e me faça progredir…

c) Finalmente, o meu obrigado imenso por partilhar connosco a análise sobre a indução profissional, a condição de ser professor, a partir do blog; o meu obrigado ainda por dar-me o privilégio de fazer parte das suas relações.


Um comentário final ao painel "Ser Professor do 1CEB...":

Fiquei triste, sobretudo, porque reconheço um potencial muito significativo nas vossas experiências e no vosso conhecimento para o processo de formação que estava em causa no painel, e que não foi devidamente aproveitado e explorado…

Logo após o painel e em conversas sobre o desenrolar do mesmo várias vezes invoquei a metáfora do copo meio cheio ou meio vazio, referindo que não sabia em qual das situações me revia, perante o meu desempenho e as incidências que aqui tentei esclarecer.

Agora que a distância fez caminho, vejo que qualquer que fosse a minha escolha ela não disfarçaria um descontentamento pessoal, mas, sobretudo, a constatação que estamos perante um processo inacabado, por preencher. E isso, no que toca à formação de professores, não pode/deve ser deixado ao acaso, tendo como referência a formação integral das crianças.

sexta-feira, junho 02, 2006

O processo de investigação em análise...

Mais um post, da minha parte, um dos últimos, se não mesmo o último. Queria fazer um apelo, mais um, à vossa participação, agora que nos estamos a aproximar das Jornadas da Prática Pedagógica e do encerramento oficial deste blog, pelo menos para os fins que foi proposto.

É precisamente pensando no processo de investigação e no blog, e olhando para o pouco movimento que apresenta, fruto de várias circunstâncias que já fomos discutindo, que gostaria de vos pedir uma última intervenção com um carácter, diria mesmo, ‘obrigatório’.

Estamos a terminar um processo que já ultrapassa os seis meses. Participaram numa sequência de três entrevistas de grupo sobre, respectivamente, “a formação inicial”, “o período de indução profissional” e “o projecto profissional e pessoal”. Fizeram, acto contínuo, três registos escritos por cada uma das entrevistas (alguns estão ainda a fazer o último registo!). E, finalmente, foram acompanhando o processo, de uma forma mais ou menos presente, com a vossa participação neste blog de discussão sobre o processo de investigação e sobre as temáticas que foram surgindo nas entrevistas ou outras que acabaram por ser objecto de análise neste espaço.

Aquilo que vos pedia, como forma de culminar este processo, era uma opinião pessoal e profissional acerca da vossa participação neste processo de investigação. O que foi para vós participar neste trabalho? O que mais vos agradou? Como se sentiram ao ler e escrever (ou não, para aqueles que não foram tão assíduos) neste blog? Quais foram as vossas dificuldades? Que pensamentos recorrentes surgiram quando pensaram no 'Professor Carlos' e no trabalho que vos propus?

Façam as vossas intervenções; escrevam aquilo que mais vos marcou. Façam um, dois, três comentários; quantos quiserem sobre os mais diversos aspectos… Aguardo com expectativa este processo de auto e hetero-avaliação do processo e dos intervenientes da investigação. Podem falar de mim, do meu papel, da minha participação/moderação/dinamização. Responderei a todos. Vou procurar também acompanhar as vossas reflexões com o meu contributo.