Ser Professor do 1.º Ciclo

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Processos metodológicos utilizados na formação inicial (e neste blog!) e o perfil profissional do professor do 1CEB

Agora que vamos começar a nova fase de entrevistas (é já amanhã) uma última postagem sobre a formação inicial de uma série de postagens que me propus fazer (se vier a propósito e se assim entenderem, ainda assim a formação inicial pode continuar a ser objecto das nossas reflexões). Trata-se de uma análise que tenta, tendo em conta um processo de moderação que estou a fazer, estabelecer uma ponte com o período de iniciação/indução profissional, que será alvo de nossa atenção especial a partir desta segunda entrevista.

A questão dos processos metodológicos utilizados na formação inicial já foi alvo das nossas reflexões nas entrevistas e até no blog. Mas agora queria correlacioná-la com os processos de construção do conhecimento profissional, ou seja, com o caminho que leva um formando, através de processos de formação, de aluno a professor, com a construção de competências que configuram o perfil profissional do professor do 1.º ciclo do Ensino Básico, numa perspectiva de um profissional reflexivo, investigador, colaborador, aberto à mudança, flexível, autónomo. Diga-se que este é um perfil de professor assumido por todos e reconhecidamente atribuído, em grande medida, aos méritos da formação inicial do IEC.

Tenho que fazer, agora, um preâmbulo para dizer que o andamento do blog me suscitou algumas dúvidas, tanto do ponto de vista da minha moderação como da vossa participação (regularidade e conteúdo). Certamente verificaram isso através de alguns dos meus comentários neste blog, como nos próprios e-mails que tenho enviado, como forma de moderar e dinamizar a vossa participação. Não se trata de menosprezar o que temos, nem de exaltar o que não existe; apenas e tão só de proceder a uma análise que permita uma melhoria das dinâmicas aqui desenvolvidas, bem como da procura de alternativas que ajudem a tornar o blog num instrumento de partilha de experiências e de reflexão sobre o processo de construção do conhecimento profissional na formação inicial e no período de indução profissional, sobretudo, através da vossa voz. Neste trabalho tenho que agradecer, publicamente, à Dra. Altina Ramos e à Dra. Isabel Candeias, pessoas que conhecem muito bem. Devo acrescentar que, especificamente, esta postagem é o culminar de um processo que resulta dessa (meta)reflexão e de algumas apropriações que faço das suas palavras (em especial, aos últimos mails que troquei com a Dra. Isabel).

Bem, voltando ao propósito inicial (nunca faço isto sem dizer muitas palavras!). Queria-vos confrontar com aquilo que apelido de uma dupla incongruência (é uma provocação) para as quais gostava de ter as vossas perspectivas:

– É possível formar um professor com o perfil que caracterizei por processos tradicionais, que em muitos casos identificaram, como expositivo, rotineiro, reprodutor, teórico, …? Como foi possível a uma formação inicial desenvolver tão bom trabalho por práticas tradicionais (também seria preciso definir bem esta concepção de tradicional)?
– É possível dizer-se que a formação inicial desenvolveu essas competências e depois verificamos, até pelo blog, que acabam por ter muitas dificuldades nos contextos escolares?

Podemos estabelecer aqui raciocínios dicotómicos ou maniqueístas, onde nós somos muito bons e os contextos escolares são muito maus? Não pode, não deve haver aqui pontos de convergência, necessariamente em benefício da educação das crianças? Não será esse um dos vossos desígnios e o elogio maior que se pode fazer à formação inicial?

É isto; espero que seja isto, pois de tantas voltas que dei ao texto, já não sei bem se era isto… Perceberam? Se não for aqui, espero que se lembrem disto durante a entrevista.

4 Comments:

  • Ensino tradicional?

    Numa perspectiva de professor activo, reflexivo e investigativo, o conceito torna-se, na minha opinião, pouco relevante.
    Independentemente das decisões pedagógicas que se tomem a nível do processo de ensino-aprendizagem, uma coisa é certa: no ensino não há receitas; o que nos leva precisamente ao cerne da questão: é preciso investigar, decidir e reflectir sobre as práticas profissionais numa perspectiva construtivista não pondo totalmente de parte algumas formas pontuais de trabalho que se utilizavam antigamente, mas antes saber utilizar ou reciclar algumas dessas mesmas práticas, para que sejam adequadas aos alunos.
    Eis o que quero referir: no IEC nunca nos disseram quais os melhores métodos de ensino-aorendizagem; apenas procuraram alertar-nos para alguns pressupostos teóricos que podem influir decisivamente na qualidade do ensino-aprendizagem - e isso na minha opinião foi o mais importante.
    O que importa é que com o tempo, através de processos de reflexão sistemática, possamos depreender o que devemos ou não fazer.
    Bom Carnaval.

    By Blogger Nuno Monteiro, at 2/26/2006 9:03 da tarde  

  • Acredito no que disse, Ana. Contudo, às vezes, confesso, também dava jeito 'escapar' com uma resposta desse tipo. Depois, se fizesse o meu trabalho de casa, lá ia ver o que não sabia muito bem e que aquele/a aluno/a queria tanto saber (quando não era simplesmente implicar comigo!).
    Bem, tenho de acrescentar que com estes processos também eu tenho aprendido muito: com aquilo que tento pocurar, mas também com aquilo que os/as alunos/as acabam por me dizer, aquilo que são os seus pontos de vista, as suas reflexões, as suas pesquisas.

    By Blogger Carlos Silva, at 2/27/2006 12:32 da tarde  

  • Olá Paula.
    Esse episódio já deu para me rir a bom rir! A Dra. Isabel não vai levar a mal; aqui fica, em público (porque já troquei convosco o mail em causa), a sua reacção ao comentário que a Paula fez:

    "Fartei-me de rir... Lembro-me perfeitamente da cena e da Paula ter ficado super-zangada comigo..., mas enquanto elas não encontrassem o informador-chave, o informador-chave não lhes daria a 'papinha' toda. E a Paula não esqueceu...".

    Ana, ainda bem que percebe do que estou a falar (tanto é que também não deixou de fazer o mesmo, e bem!). Acho até que, nesta postura de honestidade intelectual e sinceridade afectiva, que nos liga aos alunos, podemos/devemos assumir que não sabemos tudo e que, portanto, precisamos de investigar, pesquisar... para depois partilhar (competências que tanto formadores como formandos/alunos acabam por desenvolver nestes processos). E é curioso que nunca estão ‘terminadas’ (as competências), porque, como dizem, passado algum tempo acabam ainda por perceber o valor intrínseco das mesmas, acrescentando-lhes ainda outros valores, capacidades, atributos,… Estes são processos de verdadeira construção de competências (aprender a aprender), que precisam de tempo e que, por isso, nem sempre podem ficar confinados ao tempo da Formação Inicial.

    Obrigado por me permitirem estas reflexões, pois é também um processo que precisa de ser estimulado.

    By Blogger Carlos Silva, at 3/01/2006 1:32 da manhã  

  • Muito interessante, Olga. Tive de ler várias vezes para perceber a densidade de sentidos, ideias, sentimentos, experiências que se entrecruzam no texto.
    Apetecia-me pegar em tantas coisas... sobretudo, na parte final do último parágrafo, mas para não ser acusado de presunçoso (se é que eu tenho alguma coisa a ver com isso!)...

    Ainda assim, cá vai uma réplica ao seu comentário, que os seus colegas podem também agarrar:
    Depois do que disse, afinal como é 'a escola em que acredita'?
    E o que precisa de ser feito para que 'a escola em que acredita' exista de facto?

    By Blogger Carlos Silva, at 3/08/2006 2:42 da manhã  

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