Ser Professor do 1.º Ciclo

domingo, dezembro 11, 2005

O tempo e a vida


Aqui vai uma postagem para ajudar na participação deste blog, em consequência da última postagem. Há já algum ‘tempo’ que pensava na melhor forma para fazê-lo, mas não encontrava um motivo plausível e que não entoasse exclusivamente a ‘pai babado’.
É verdade, já muitos sabem, fui pai novamente (aproveito e faço publicidade a uma das primeiras fotos da Beatriz com a Rita e o pai). Tenho agora em casa duas meninas que são motivo da minha alegria e agitação!

Faz segunda-feira, dia 12, UM MÊS que a Beatriz nasceu. No dia seguinte faz CINCO ANOS que a Rita nasceu. Alguns de vós devem-se lembrar; estavam em formação, num ‘tempo’ muito diferente deste que agora vivem. Lembro-me, agora eu, que a Carla Leite, vossa colega de profissão, na altura em formação, teve dois dias (antes ou depois do dia 13 de Dezembro; agora não me recordo) um menino.
A Rita cresceu; o tempo passou, já lá vão 5 anos. Agora que o vejo num olhar retrospectivo, posso, se calhar dizer, que passou ‘depressa’; até parece que este último mês, o mês de vida da Beatriz, demorou mais tempo a passar!

O tempo que vivemos, o tempo que gastamos, o tempo que não temos, o tempo que passa, o tempo que nunca mais passa… Tudo isto leva-me a reflectir sobre um dos aspectos essenciais da actividade humana em geral e, por natureza, da formação e do ensino: o tempo. Claro está que não podemos ‘isolar’ elementos de uma equação complexa e dinâmica, sobretudo se se mexe com factores que vão para lá do meramente físico ou mensurável. Na educação, se a entendermos como uma actividade que engloba a formação e o ensino, para além de outras coisas, teríamos de pensar ainda, pelo menos, do ponto de vista organizativo, no espaço e nas condições materiais (recursos) que rodeiam o acontecimento (continuando a tentar reforçar a visão restritiva da dimensão física destes factores).

Voltemos ao ‘tempo’ para reparar, tal como no nascimento das minhas filhas, também na vossa formação inicial e actividade profissional, o tempo assume uma dimensão física (facilmente detectada, quantificada e estruturada), mas, sobretudo, uma dimensão emocional.
Vejam bem. O tempo e a vossa formação inicial. Quantos de vós me dizem como gostariam de ‘recuperar’ esse tempo; quantos de vós me dizem ter sido um tempo difícil de superar. Por vários motivos esse tempo deixou uma marca (a associação imediata aos espaços e às relações interpessoais são inevitáveis).
Depois podemos, para diversificar os exemplos e fazer evoluir a vossa situação, falar do tempo para os professores prepararem as aulas e que a sociedade parece não querer contabilizar ou fazer-se de esquecida.
Temos ainda o tempo ‘necessário’ para as crianças aprenderem (pelos vistos, muito diferente de criança para criança). O tempo que têm repleto com muitas outras actividades, para além da escola, o tempo que não têm para brincar…
Olhem, de novo, para o início da vossa actividade profissional. Como apreciam os vossos primeiros dias de trabalho, que tempo foi esse? Quanto tempo levou a passar?

Só vos digo, para terminar, que mês este, o mês da Beatriz! Podem imaginar quanto tempo é este? Daqui a cinco anos será um tempo de recordações e, como tal, a dimensão física atenua‑se e dará lugar a uma outra dimensão emocional, provavelmente menos precisa, mas, digo eu, mais importante, por ser aquela que prevalece.

6 Comments:

  • Enquanto verificava o resultado desta postagem, olhando para a sua extensão lembrei-me de dizer que não precisam de escrever assim tanto. Tenho para mim que exagero em muitas coisas; esta parece ser uma delas. Por isso, não se inibam por causa 'destes maus exemplos' (no que diz respeito à dimensão exagerada do texto).

    By Blogger Carlos Silva, at 12/11/2005 12:38 da tarde  

  • Olá a todos. Espero que este fim de semana tenha sido proveitoso para vós....

    Mais um Natal se aproxima, com as já habituais as luzes da rua, os sons melódicos, a agitação das pessoas, os rostos de alegria que cada um transporta consigo....os cheiros típicos de uma cidade que "vive" e respira tradições....

    Será que isto tem a ver com o tema deste Blog?

    Sim, ....
    se é verdade que o Natal é todos os dias....

    se é verdade que o Homem é um ser pensador, actuante, reflexivo e simultaneamente frágil.......

    então, são precisamente estas dimensões que estão presentes na vida profissional de cada professor....

    Num dia, sentimos a alegria de termos conseguido aplicar algo do que aprendemos na nossa formação....e até deu resultado... È Natal...
    Noutro dia, parece que todas as expectativas se esvanecem...todas as teorias e práticas teimam em não querer sair dos livros ou fotocópias que estudamos....

    Contudo, algumas ideias e princípios permanecem, a meu ver:

    O Espírito de Natal deve permanecer em todos nós, mesmo quando aquilo que fazemos na nossa simplicidade e humildade, nos parece menos bem conseguido...porque afinal.....

    È nas pequenas coisas que vamos construíndo que conseguimos caminhar...

    e para Aprender a andar, é preciso reflectir sobre cada passo que damos....Quando damos um passo mais em falso, há que, simplesmente, aprender com o erro, com o seu valor pedagógico, e definir critérios, opções, recursos e formas de acção que nos possibilitem caminhar melhor.
    Acho que é para isto que aqui estamos, neste projecto, repensar práticas, opções curriculares, relações sociais, no fundo, repensar a forma, não de "dar receitas" aos formandos para aplicar num grupo de alunos, mas antes, repensar a forma como, entre outras coisas, construímos competências (saber fazer) e atitudes (saber ser)impotantes para sermos bons profissionais....
    E olhem que não é fácil.....cada vez mais a Construção precisa de ser mais sólida....

    Ah, é verdade......a todos(as)que são Pais ou Mães, os meus renovados Parabéns, e que O Deus-Menino que nasceu em Belém, vos encha de Bençãos e Dons.
    Nesta altura em que na Igreja Católica se celebra a Pastoral da Família, peço a Deus que vos dê a graça de saberdes construir também uma família sólida, coesa e rica em valores, independentemente da vossa crença.

    Até Sábado.....

    By Blogger Nuno Monteiro, at 12/11/2005 9:52 da tarde  

  • Segunda-feira, que dia.....!
    Na minha escola hoje, foi um daqueles dias em que parecia que nada fazia sentido....
    As estruturas políticas e suas políticas parecem querer fazer de cada professor, cada vez mais, um mero "cumpridor do programa", ou talvez de...apenas um dos programas...que se calhar até nem é já muito ajustado às necessidades, problemas e experiências dos nossos alunos....
    Realmente, como dizia a minha amiga Luciana, ......como eram boas as emoções e comoções da nossa formação.....porque afinal, apesar de nem tudo funcionar bem, a verdade é que nos sentíamos com mais alma, mais furor, mais engenho para mudarmos as realidades organizadas burocraticamente em Despachos e Leis, desconectados, muitas vezes, daquelas que são as realidades educativas. Ao menos nesses tempos de outrora sentíamos que tínhamos um conjunto de formadores que, de uma forma cítica mas construtiva, e ,muitas vezes com um gesto de amizade e compreensão, nos diziam: "Meu caro, não desanimes....caminha..porque ser professor é ser profissional..."

    e para ser profissional, basta, se calhar, ter noção de que é preciso dar o nosso contributo para a edificação de uma escola mais aberta e menos burocrática...uma escola onde os alunos se sentem activos, participativos e onde os põem a pensar sobre o seu meio próximo e o mundo onde vivem....

    Um abraço para todos vós....

    By Blogger Nuno Monteiro, at 12/12/2005 11:39 da tarde  

  • Olá, Beatriz. Bem-vinda ao blog.
    As reflexões da Beatriz são muito pertinentes e indiciam que teremos assunto para discutir durante as entrevistas... (aliás, como outras intervenções de colegas seus).

    Mas, o facto que me levou a responder-lhe, agora, está relacionado com a bebé: Com que então gosta do nome? Eu também! Foi a Rita que escolheu, mas teve a minha anuência!

    By Blogger Carlos Silva, at 12/13/2005 4:00 da tarde  

  • Olá, Joana.
    Duas ressonâncias ao seu comentário:
    - Embora simples, esse pensamento sobre as 24 horas implica muito da dimensão emocional, psicológica que o tempo encerra. Ainda assim, há meios (recursos) que nos permitem potencializar essas 24 horas de formas muito diferentes, não acha? Ou será o meu lado materialista, ultimamente muito presente nas minhas vivências, a protestar?
    - Acertou numas das minhas preocupações mais emergentes dos últimos tempos. A Rita já está no jardim de infância e muitas vezes me questiono acerca das experiências de aprendizagem que tem (ou não) desenvolvido. Já não falo aqui das condições materiais que o nosso país disponibiliza para estes níveis de ensino que, melhor do que eu, certamente saberão dar o testemunho da falta de atenção que lhes seria devida (se estamos a falar da educação básica, primeira, estruturante).
    A questão que me interessa para aqui está mais relacionada com o perfil profissional de professor que desejaria para a minha filha. Neste sentido, tem razão quando fala da responsabilidade do papel do professor que passa tanto tempo com as crianças. Como isto de formar professores, afinal, está relacionado com as nossas vidas das mais variadas maneiras possíveis. E como isso assume uma dimensão pessoal tão forte. Espero estar a fazer alguma coisa de positivo neste sentido. Nas entrevistas logo dirão da vossa razão...
    Obrigado pela participação e pelo despertar de questões que me fizeram pensar...

    By Blogger Carlos Silva, at 12/14/2005 1:04 da manhã  

  • A escola actual apresenta-se-nos hoje com realidades muito diferentes das que existiam há uns anos atrás....toda a gente o sabe!

    Já que temos vindo a falar sobre a questão temporal, pergunto:

    Será que o tempo pode ajudar os professores recém-licensiados a acomodarem-se a práticas rotineiras e ao "políticamente correcto"? Se sim, porque o fazem?

    Será que as estruturas executivas e a legislação que vai saindo ao longo do tempo,, não terá efeitos preversos no sentido em que referem-se a "chavões etimológicos" do campo educacional, mas no fundo procuram "burocratizar" cada vez mais as escolas?
    Todos os dias me questiono: Porque é tão difícil aplicar aquilo que aprendemos na formação inicial?

    Porque é que hoje, não consegui gerir o tempo da aula, de forma a cativar os alunos e a despertar neles a vontade de descobrir?

    Serão estes dilemas partes integrantes da vida profissional?

    Terá isto a ver com o facto de sermos "novos"?

    Será que os profissionais cokm mais tempo de serviço e com uma carreira estável, não sentem estas dificuldades?

    E se não as sentem ou sentem menos, porque será?

    Terão eles alunos ditos "melhores " que os alunos dos professores recém licensiados, ou será fruto de uma visão "tradicional" do que significa SER PROFESSOR....?

    Aqui ficam alguma questões com que me deparo continuamente.....

    Espero que sejam relevantes para o nosso trabalho consigo, Prof. Carlos, e também que o Tempo, a discusssão e a partilha de experiências nos ajude a clarificar....

    By Blogger Nuno Monteiro, at 12/15/2005 12:10 da manhã  

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